Eclodiram protestos em várias cidades da Indonésia, esta sexta-feira, em reação à morte de um motorista de mototáxi atropelado por um veículo da polícia, enquanto os agentes responderam com gás lacrimogéneo e o presidente pediu calma.
Já tinham sido registados confrontos violentos entre manifestantes e a polícia na capital Jacarta, na quinta-feira, devido aos baixos salários e aos benefícios considerados generosos para os legisladores, enquanto o descontentamento público cresce em relação à gestão da economia pelo governo.
A resposta da polícia aos protestos foi alvo de fortes críticas depois de vídeos nas redes sociais mostrarem um veículo das autoridades preto a atropelar um homem.
O presidente da Indonésia, Prabowo Subianto, visitou a família do motorista de mototáxi Affan Kurniawan esta sexta-feira para apresentar as condolências. O chefe de Estado já tinha pedido calma e prometido uma investigação sobre a morte de Kurniawan.
No entanto, horas depois, dezenas de indonésios reuniram-se em frente à sede da polícia paramilitar, unidade que consideram culpada pela morte de Affan Kurniawan, e atiraram fogos de artifício contra o edifício em Jacarta.
Fogueiras feitas com pneus e caixas de cartão perfuravam nuvens de gás lacrimogéneo. Alguns manifestantes apanharam as granadas lançadas pela polícia e atiraram-nas para um local seguro, recebendo aplausos da multidão ao cair da noite.
Os protestos desta semana foram os mais violentos desde que Prabowo assumiu o cargo em outubro e representam um desafio inicial para o presidente, que prometeu um crescimento rápido impulsionado pelo Estado.
Mas algumas das suas políticas, incluindo cortes generalizados no orçamento anunciados este ano para financiar o programa emblemático de merenda escolar gratuita e um novo fundo soberano, provocaram descontentamento público.
Em frente à sede da polícia de Jacarta, centenas de pessoas permaneceram de forma desafiadora sob a chuva torrencial, enquanto atiravam fogos de artifício.
A polícia gritou através de megafones e exigiu que parassem de atirar objetos e fossem para casa, acusando a multidão de lançar pedras e cocktails molotov.
Os protestos também se espalharam para outras grandes cidades da Indonésia, incluindo Surabaya, em Java Oriental, e Medan, na província de Sumatra do Norte.
Centenas de motoristas, muitos vestidos com os casacos verdes e pretos características, atiraram objetos contra as sedes locais da polícia em ambas as cidades.
Centenas de pessoas também se reuniram na quinta-feira perto do parlamento indonésio em Jacarta para protestar contra questões como os altos salários dos legisladores, cujo subsídio mensal de habitação é de 50 milhões de rupias (cerca de 3500 euros), quase dez vezes mais que o salário mínimo.
Grupos trabalhistas exigiram melhores salários e que o governo tomasse medidas contra as recentes demissões em massa de trabalhadores.
A polícia de Jacarta não respondeu ao pedido da AFP por dados sobre prisões durante os protestos.
Justiça para Affan
Milhares de motoristas reuniram-se perto da sede da brigada móvel da polícia em Jacarta esta sexta-feira para exigirem responsabilização pela morte de Affan, enquanto os agentes isolavam um troço da estrada nas proximidades.
A polícia disparou gás lacrimogéneo na tentativa de dispersar os manifestantes, na sua maioria motoristas de mototáxi conhecidos localmente como "ojeks".
"Juntei-me ao protesto porque estou muito preocupado com a morte do meu colega motorista", disse Muzakir, de 52 anos, à AFP.
"Exigimos justiça para Affan, para que os culpados que o atropelaram sejam julgados da forma mais justa possível e demitidos da sua instituição", acrescenta.
As autoridades estão a interrogar sete agentes da polícia em relação ao incidente.
"Concordámos que os sete suspeitos violaram comprovadamente os códigos de ética policial", disse Abdul Karim, chefe da divisão de assuntos internos da Polícia Nacional, numa conferência de imprensa.
O responsável acrescentou que os agentes serão detidos para investigação adicional.