Vila do Conde

Rio Ave "invadido" por milhares de jacintos-de-água

Foto: Ana Trocado Marques

O rio Ave, em Vila do Conde, está repleto de "jacintos-de-água". Nalgumas zonas do concelho, a espécie invasora cobre já, por completo, o leito do rio e há já praias a serem vítimas da "praga", que acaba por apodrecer e ser terreno fértil para a proliferação de milhares de insetos

Quem usa o rio para desportos náuticos vê-se, por estes dias, obrigado a verdadeiras gincanas. Há riscos para a saúde pública, para a fauna e flora e prejuízos para o turismo.

O jacinto-de-água é uma espécie invasora, originária da América do Sul (mais propriamente da bacia Amazónica), listada no decreto-lei n.º 92/2019, de 10 de julho, e faz parte das espécies que suscitam preocupação na União Europeia. De crescimento muito rápido, forma um verdadeiro tapete à superfície dos rios, que impede a entrada de luz e diminui a qualidade da água, colocando em risco peixes e plantas autótones.

Junto à ponte D. Zameiro, em Macieira da Maia, o leito do Ave mais parece um relvado e nem sequer é possível ver a água, numa extensão de centenas de metros. Na cidade, na marina, em plena zona histórica, os barcos estão rodeados de jacintos e há enormes tufos em todo o leito do rio. O mesmo se passa junto à doquinha e, mais acima, junto à ponte de Retorta. Nas praias, arrastadas pelo rio, as primeiras plantas já começaram a dar à costa em Azurara e em Árvore e teme-se que, nos próximos dias, o cenário seja ainda pior. Com a água salgada, os jacintos-de-água morrem, dão à costa e apodrecem na areia, atraindo milhares de insetos e afastando os banhistas e os muitos que, nesta altura do ano, escolhem Vila do Conde para passar férias.

Câmara quer resposta intermunicipal

A Câmara de Vila do Conde diz acompanhar "com preocupação" a "praga" de jacintos-de-água, que, ano após ano, "se agrava nos meses de verão". O município tem reportado a situação à Agência Portuguesa do Ambiente (APA), "a alertar para esta realidade e para os riscos associados, bem como para os custos que o arrastamento destas plantas para as praias do concelho representa".

Ainda assim, explica a autarquia, "a resposta eficaz ao problema só poderá resultar de uma estratégia intermunicipal e interinstitucional, envolvendo a APA, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, a Autoridade Marítima, a Área Metropolitana do Porto, a Comunidade Intermunicipal do Ave e a comunidade científica, de modo a articular soluções estruturadas e sustentáveis para o rio Ave

Em 2022 e 2023, o cenário foi o mesmo. Na altura, a Câmara chegou mesmo a demonstrar a sua preocupação junto da Administração da Região Hidrográfica do Norte que, juntamente com Unidade de Saúde Pública, realizou análises à água da zona de Azurara.

"Para além de potenciais impactos na navegação, no uso recreativo e na prática de desportos aquáticos, na qualidade da água e nos ecossistemas, o arrastamento de quantidades significativas destas plantas para as praias do concelho pode gerar custos económicos para o município, além de riscos para a saúde pública", afirmava, na altura, a autarquia.

Ana Trocado Marques