Paula Ferreira

Rui Pedro e outros casos de lentidão da justiça

Se Filomena Teixeira não reclamasse, junto da opinião pública, o trabalho da justiça, provavelmente o caso de Rui Pedro seria mais um a ser devorado pela inércia do aparelho judicial

Rui Pedro desapareceu. E só agora, treze anos depois, o Ministério Público deduziu a acusação ao suspeito da primeira hora. Um pouco tarde, talvez.

O importante, como os pais de Rui Pedro não se cansam de repetir, é encontrar o menino que hoje será um homem, se ainda estiver vivo. Depois, sim, fazer justiça, se isso ainda for possível.

A criança foi andar de bicicleta e esfumou-se, literalmente. Nunca mais houve sinal de Rui Pedro, apenas uma luta quase inglória, dir-se-ia, mas persistente, da mãe desesperada. Nunca se resignou ao silêncio, à lentidão da investigação, nunca deixou de acreditar, por mais ténue que fosse a esperança, na possibilidade de voltar a abraçar o filho perdido.

Que contas pode a justiça portuguesa prestar a estes pais? Provavelmente, nenhumas. Talvez apenas e só reconhecer a incompetência. Porque o que falhou falhou naquela tarde fatal, nas horas imediatas ao alerta dado do desaparecimento.

Treze anos volvidos, tudo parece na mesma: nem uma boa pista do rapaz. As autoridades podem alegar: investigaram mais de 100 pistas diferentes, tiveram de destrinçar entre um rapto e uma fuga (um rapaz de 13 anos pode fugir sem as autoridades se sentirem obrigadas a ir atrás dele?), procuraram rastos em complexas redes de pedofilia... E depois? É isso que se espera da Polícia Judiciária.

Filomena Teixeira, mãe de Rui Pedro, nunca desistiu do filho. Do amor que lhe roubaram. Tanta porfia dolorida teve agora um resultado: a acusação deduzida pelo Ministério Público. Se Filomena Teixeira, uma mulher com a mágoa estampado no rosto, não reclamasse, junto da opinião pública, o trabalho da justiça, provavelmente o caso do Rui Pedro seria mais um a ser devorado pela inércia do nosso aparelho judicial.

Filomena não é única. Há mais mães portuguesas a partilhar da mesma amargura: choram os filhos que viram uma última vez a caminho da escola, ou a brincar com os amigos no espaço comum de um prédio de uma qualquer cidade. Falámos deles sempre que falámos de Rui Pedro, numa coluna a que damos o nome de "Outros casos". Para estes desaparecidos, quase seguramente, jamais será deduzida qualquer acusação.

PAULA FERREIRA