Cora Corré, neta de Vivienne Westwood, condena a presença da marca em Riade, afirmando que "não reflete os valores da avó". A empresa defende o desfile como diálogo cultural, enquanto a Fundação Vivienne lança t-shirts solidárias cujas vendas revertem para causas LGBTQ+ e ambientais.
A icónica marca britânica Vivienne Westwood estreou-se esta quinta-feira no Riyadh Fashion Week, em Riade, na Arábia Saudita. A Semana de Moda prolonga-se até 21 de outubro, encerrando com Stella McCartney, numa programação que combina designers internacionais e talentos locais, como Khalid Almasoud, com a marca AWAKEN, que esteve no Portugal Fashion, no Porto, em julho.
Apesar do destaque global, a decisão gerou críticas internas. Cora Corré, modelo e neta de Vivienne, e cofundadora da Vivienne Foundation, afirmou ao "Guardian" que as escolhas da empresa "não alinham com os valores ou desejos da minha avó". Corré revelou ainda que só tomou conhecimento do desfile através de uma amiga.
Cada t-shirt da nova coleção da fundação, que será lançada esta semana, custa cerca de 173 euros e tem parte das receitas revertidas para organizações LGBTQ+, vítimas de conflitos, alterações climáticas e pessoas em situação de sem-abrigo. "A minha avó, além de designer, era uma ativista comprometida, que reconhecia o privilégio de usar a moda como plataforma e faria tudo para apoiar causas sociais e ambientais", sublinha Corré.
Entretenimento e polémica
A Vivienne Westwood justificou a participação em Riade como "uma oportunidade de diálogo cultural, construção de entendimento e visibilidade de vozes diversas", insistindo que não se trata de um endosso ao regime saudita. A iniciativa ocorre num contexto delicado: organizações como Human Rights Watch e Amnistia Internacional criticam o país pelo histórico de repressão, incluindo penas severas contra relações homossexuais e dissidência política.
A Semana de Moda de Riade, agora na terceira edição, destaca-se pelo investimento em espaços icónicos, como o Palm Grove, e na colaboração com artesãos sauditas, celebrando elementos culturais do reino. Designers regionais e internacionais apresentarão alta-costura e prêt-à-porter, consolidando Riade como um novo polo global de moda.
O contraste entre o desfile corporativo e a ação solidária da fundação revela tensões internas na marca: enquanto uma busca projeção internacional, a outra mantém a herança ativista de Vivienne Westwood.