Notícias Magazine

Jamie Woon está de regresso com "3,10, why, when" - e continua notívago

Crítica de música

O cantor, compositor e produtor britânico Jamie Woon leva o seu tempo a arquitetar discos. Entrou em cena no início da década passada, alinhavou um exemplar par de álbuns - "Mirrorwriting" em 2011, "Making time" quatro anos depois. Uma canção, "Night air", em parceria com Burial e ainda com ecos da primeira vaga de dubstep, carimba este século musical.

Foi preciso esperar até 2025 pela continuação. E logo a abrir "3, 10, why, when" (edição Also Can), "All the way" parece fazer referência a essa década quase muda, quando Woon reconhece que "Yeah, I get settled in a one-track mind/ Waiting for the right time/ Like a river that"s tongue-tied". O álbum foi coescrito e coproduzido pelo sueco Martin Terefe, que o terá ajudado neste processo de chegar de novo aos ouvidos do Mundo.

Várias coisas cruciais não mudaram. Jamie Woon permanece um cantor discretamente perfeito, de uma contenção com o máximo impacto emocional. O tom dominante das canções permanece num trânsito entre resplandecente r&b-funk-soul e uma pop digital, elástica, inesperada e pouco ornamentada. "Pulling on a thread" segue por um sublime crescendo movido a cordas de baixo e violinos. "Heavy going..." é um tratado de elegância em todas as frentes: no canto encostado ao falsete, no groove que se vai chegando ao primeiro plano até tomar o volante da canção nos instantes derradeiros, um recurso sedutor, muito anos 1980, que Jamie Woon emprega amiúde.

Dito isto, avança-se neste álbum por caminhos plurais. Caso da folk orquestral em "All the way". Da aproximação ao gospel em "The heart"s mountains", momento em que há mais América no horizonte, uma confissão sobre instrumental The Aphex Twin/videojogo para ZX Spectrum. Do dub gótico e chuvoso (e Depeche Mode) em "Ghost". E de uma balada, "What"s the matter", sem máscaras, de deixar a pele em alerta. Se algo bloqueava Jamie Woon, espera-se que "3, 10, why, when" seja o (re)abrir das comportas.

Jorge Manuel Lopes