Coliseus estão esgotados para o novo espetáculo pop: sábado e domingo no Porto, 6 e 7 de novembro em Lisboa. Grupo de Rui Reininho lança provocação e anuncia: "Não vamos tocar o 'Dunas".
Os GNR celebram 45 anos de carreira com "Operação STOP - Somos Todos Obrigados a reParar", título que é, efetivamente, trocadilho e manifesto: parar para olhar para trás, sim, mas também para reparar no presente, para ver o que ainda pulsa. Os coliseus do Porto (sábado e domngo) e de Lisboa (6 e 7 de novembro) estão esgotados - e não é por acaso.
Há algo de ritual no regresso: Toli César Machado, Rui Reininho e Jorge Romão voltam ao lugar onde, nos anos 1980, foram pioneiros: a primeira banda pop portuguesa a encher um Coliseu, quando o "rock português" deixava de ser promessa e se tornava espelho da realidade - a da nova identidade urbana pós-revolução.
Nestes 45 anos cabem muitas histórias. "Como aquela vez em que o Rui desapareceu pelo palco adentro e partiu quatro costelas", conta Romão, que desde aí lhe chama carinhosamente "Elvis Costela". Enquadram-se também "os anos 1990, em que ninguém gostava de nós", relembra Reininho. Ou os tempos modernos, "em que tecnologicamente houve uma evolução brutal, a nível da comunicação e da técnica, e também a chegada das plataformas [de streamimg] muito pouco amigas dos artistas", resume Toli.
Mas, no fim, resiste sempre uma vontade uníssona dos GNR e do público: "Estarmos juntos em cima do palco a fazer música e ao vivo".
São mais de 200 canções
Quatro décadas e meia depois, os GNR continuam a ser um caso singular. Atravessaram modas e silêncios, discos de ouro e tempestades mediáticas, mas nunca perderam o timbre - essa mistura de provocação e elegância, ironia e poesia. Os espetáculos de aniversário prometem percorrer 12 álbuns de originais, quatro coletâneas e dois discos ao vivo, numa viagem que vai de "Independança" a "Caixa negra", passando pelos recentes singles.
Mas o trio não quer revelar o alinhamento. "São mais de 200 temas", atira Reininho. E Toli provoca: "Desta vez, não vamos tocar o "Dunas", decidimos que estamos fartos", e diz isto com aquela lucidez, rara, de quem sabe que pode jogar com o estatuto do mito - ou será que é ironia?
"Efetivamente", "Pronúncia do norte", "Mais vale nunca" são canções que já não pertencem apenas aos GNR; pertencem à memória coletiva. Mas este não é um momento de nostalgia, é uma celebração do humor mordaz e da teatralidade de Rui Reininho a comandar o jogo, a desconstruir uma certa portugalidade.