Praça da Liberdade

A Europa vai pagar a reconstrução da Faixa de Gaza?

Donald Trump e Benjamin Netanyahu garantiram o cessar-fogo. Os reféns foram libertados. A Europa, irrelevante, assistiu. E, agora, quem pagará a reconstrução da Faixa de Gaza? Serão os contribuintes europeus?

Em meados de fevereiro de 2025, um relatório conjunto entre a UE, a ONU e o Banco Mundial pintava um cenário preocupante: a reconstrução de Gaza poderia custar cerca de 60 mil milhões de euros, com necessidades imediatas avaliadas em 17 mil milhões de euros. A Europa surge, neste contexto, como uma potencial protagonista. A criação de um fundo europeu específico para a recuperação da região poderia garantir que os recursos fossem utilizados de forma eficaz e sustentada, promovendo uma reconstrução sólida e duradoura.

Recentemente, Ursula von der Leyen anunciou a intenção de criar um grupo especial de doadores, destinado a coordenar a ajuda internacional, reforçando a transparência na gestão dos fundos e garantindo que a assistência chegue de forma organizada e eficiente. Um gesto significativo, mas que, por enquanto, não altera uma realidade incontornável: a Europa continua ausente no terreno.

É demasiado cedo para avaliar qual será o verdadeiro papel da Europa no futuro do Médio Oriente, ou se os fundos que vier a disponibilizar terão algum impacto real na vida quotidiana de Gaza. No entanto, seria inaceitável que a Europa assumisse o custo desta reconstrução. Antes de olhar para além-mar, a UE deve olhar para dentro de portas. A UE enfrenta desafios internos urgentes (desde a recuperação económica à segurança energética e tecnológica, passando pela coesão social e pela resposta às desigualdades). Prioridades que exigem atenção, investimento e prudência. Transferir para os contribuintes europeus o peso exclusivo de uma guerra distante seria, além de injusto, contraproducente.

A Europa pode e deve ter um papel diplomático e humanitário relevante, mas isso não significa financiar uma reconstrução que envolve múltiplos atores e interesses globais. Primeiro, é necessário assegurar a resiliência interna, reforçar a união e consolidar o bem-estar dos europeus. Só assim a Europa poderá projetar influência externa com legitimidade, eficácia e autoridade moral.

Daniel Martins Pinto