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Gouveia e Melo: "Passados dez anos, o imigrante é tão português como nós. Ou nós temos um gene especial?"

Almirante disse que o seu exemplo de presidente da República é Mário Soares Foto: Rui Manuel Fonseca

O almirante Gouveia e Melo apontou que a imigração em Portugal "não é um problema, é uma oportunidade" e admitiu que irá perder votos, caso os eleitores sejam convencidos ou apreciem o discurso anti-imigração. O candidato a Belém salientou a importância da integração dos trabalhadores estrangeiros, a bem da economia e da segurança social do país.

"A palavra-chave é integração. Nós quando recebemos imigrantes, o que nós desejamos? Desejamos que os imigrantes façam parte da nossa comunidade e queiram somar à nossa comunidade. Passados dez anos, o imigrante é tão português como nós. Ou nós temos um gene português especial? Se essas pessoas vêm para trabalhar, para se integrarem - por isso, é que a palavra integrar é importante - e querem fazer parte do nosso destino comum, melhorando a nossa pirâmide etária, que está invertida, aumentando a nossa economia, trazendo valor acrescentado em termos de conhecimento e tecnologia, porque é a gente não gosta dos imigrantes?", apontou Gouveia e Melo, numa entrevista à agência Lusa, divulgada este sábado.

Questionado sobre a possibilidade de o discurso anti-imigração ganhar votos nas presidenciais de janeiro do próximo ano, o ex-chefe do Estado-Maior da Armada respondeu que, se se confirmar essa teoria, irá perder votos. "A economia portuguesa tem que se desenvolver e nós precisamos dos imigrantes para desenvolver essa economia", referiu o candidato presidencial.

O almirante rejeitou uma resposta de "sim" ou "não" à entrada de imigrantes em Portugal e reprovou a relação feita, por outros atores políticos, entre imigração e criminalidade. "Eu sou racional. Se me provarem que há um conjunto de imigração que é prejudicial ao Estado, claro que eu não quero essa imigração, mas têm que me provar, não é porque eu não gosto de imigrantes, ou porque a população portuguesa está aborrecida com um tipo de imigrantes e acha que todos os imigrantes são maus", afirmou.

Exemplo de Mário Soares

Na mesma entrevista, Gouveia e Melo referiu que Mário Soares é o seu modelo de presidente da República e considerou que Ramalho Eanes foi também "importantíssimo" para a democracia. Quanto a Jorge Sampaio, Cavaco Silva e Marcelo Rebelo de Sousa, considerou que foram uma "sequência" daqueles dois antecessores.

Relativamente aos seus opositores, o ex-chefe do Estado-Maior da Armada defendeu que, caso Marques Mendes seja escolhido pelos portugueses para ser o próximo presidente da República, ficará com "uma dívida" ao PSD. "O Dr. Marques Mendes pode dizer que não é do PSD, que é independente, etc. Sem o PSD não seria eleito. Portanto, ele vai ficar com uma dívida ao PSD. E essa dívida vai ser-lhe cobrada", disse.

Rita Neves Costa