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O artista que constrói histórias numa linha vertical

foto: J. Pedro Martins

João Paulo Santos, referência mundial no circo contemporâneo, especialista em mastro chinês, é mentor artístico da Noite do Circo da Feira.

Em pequeno, sentia-se maior do que o tamanho da sua altura, queria ser ator de cinema, ser visível. Participava em workshops artísticos na escola, fazia teatro amador, vivia num bairro problemático de Lisboa. Aos 16 anos, entrou no Chapitô. Nas primeiras semanas, no encontro de malabarismo de Oeiras, percebeu o caminho. "O circo passou a ser o meu universo." Com 20 anos, saiu de Portugal para estudar artes circenses em França. Ficou fascinado com o mastro chinês. "Quando vi os artistas subir, descer, fazer o número deles, percebi quase instantaneamente que era a disciplina que iria fazer." Assim foi. "A beleza do mastro é a sua simplicidade, uma linha vertical que deixa a possibilidade de contar mil histórias."

De trampolim imaginário para saltar para qualquer lado, o mastro passa a ser uma linha que mostra o desgaste e o esforço para ultrapassar limites. "O mastro ensinou-me a resiliência e a capacidade de ir mais além." Tem mostrado a sua arte em toda a parte: Europa, África, Ásia, Austrália, Estados Unidos, América Latina. Roda pelo Mundo.

Em 2004, fundou a sua companhia "O último momento" com o músico Guillaume Dutrieux, a sul de Toulouse. No ano seguinte, conquistou o Prémio Jovem Talento de Circo com "Peut-être", solo dueto entre um acrobata e um músico - juntos exploram o lugar que ocupam, fronteiras, barreiras. Em 2006, criou o solo "Contigo" com o coreógrafo Rui Horta para o Festival de Avignon, e andou em turné 16 anos com a peça. "PA(i)YSAGE(n)S" é a mais recente criação. "Uma ode ao tempo que se toma para fazer desvios, contemplar as paisagens, e olhar para as coisas de outra forma", descreve.

A 14 e 15 de novembro, regressa à Noite do Circo de Santa Maria da Feira como mentor artístico. No programa, seis propostas de circo contemporâneo, três em estreia absoluta, criadas e apresentadas por nove artistas de sete nacionalidades. Todas de acesso gratuito. A sua proposta passa por uma espécie de conexão entre o circo moderno e o antigo, circo subtil, com técnica que não se vê, mas que está em todo o lado.

Ser artista foi óbvio desde cedo e continua a ser com as marcas e o rasto do tempo. "O que me faz continuar nesta arte é o prazer de avançar na minha pesquisa artística, de sentir que ainda faz sentido para mim", revela. Saudades de Portugal é difícil, vem quase todos os meses a Portugal.

João Paulo Santos
Localização
França
Profissão Artista de circo
Idade 46 anos

Sara Dias Oliveira