De filho preferido da rainha à vergonha. Entre um casamento falhado, acusações de abuso sexual, ligações ao mundo da espionagem e uma vida marcada por privilégios, Andrew acabou mesmo por perder tudo.
Nas histórias de encantar, é comum o sapo transformar-se em príncipe, mas neste conto real, parece que as linhas foram escritas no sentido inverso. O terceiro filho da rainha Isabel II e do príncipe Filipe, tinha a vida traçada entre o palácio e os deveres reais. Militar, piloto na Guerra das Malvinas, e com uma carreira promissora, Andrew cedo reunia condições para ser uma das figuras mais relevantes da família real britânica. Contudo, o seu nome acabou sinónimo de vergonha.
Uma das primeiras sombras sobre a sua vida surgiu no casamento com Sarah Ferguson, união à primeira vista perfeita. Casaram-se em 1986, num evento mediático, e tiveram duas filhas: Beatrice e Eugenie. Porém, o relacionamento ficou marcado por infidelidades mútuas e por escândalos constantes. O divórcio, a dada altura inevitável, formalizado em 1996, foi o primeiro revés para a sua imagem. A aparente falta de disciplina, a relação com figuras controversas e a exposição pública em situações desconfortáveis cedo começaram a manchar o seu nome.
Mas o maior golpe na sua reputação veio em 2019, quando Virginia Giuffre o acusou de abuso sexual. A americana alegou que, enquanto adolescente, foi traficada por Jeffrey Epstein - financeiro e pedófilo que abalou as estruturas da elite mundial - , e que, em várias ocasiões, foi abusada sexualmente por Andrew. Embora o príncipe tenha sempre refutado as acusações, as provas e os depoimentos de várias vítimas, além das fotografias e de outros detalhes que o ligavam a Epstein, tornaram a negação pouco credível. Célebre ficou a sua tentativa de defesa pública numa entrevista à BBC. Naquela conversa, onde não conseguiu disfarçar o desconforto, foi incapaz de ser convincente. E, em vez de afastar as acusações, a sua postura agressiva e respostas evasivas causaram um mal-estar ainda maior, minando a credibilidade da sua versão dos acontecimentos.
Em 2022, o duque de Iorque viu-se ainda mais afastado da família real, à medida que o escândalo Epstein se intensificava. Em janeiro desse ano, depois de uma batalha legal, Andrew chegou a um acordo financeiro com Virginia Giuffre, que o processava por abuso sexual. Embora o príncipe não tenha admitido qualquer culpa, o acordo foi um movimento estratégico para evitar um julgamento, o que indicou, na visão de muitos, uma tentativa de minimizar os danos à imagem da família real. O montante não foi revelado, mas os tabloides britânicos sugeriram que o pagamento foi substancial. Recentemente, Giuffre, no seu livro "The Tragedy of Jeffrey Epstein", descreveu com detalhes os abusos que sofreu e o vínculo com o príncipe, acusando-o de participar ativamente num esquema de exploração sexual orquestrado por Epstein.
Os media britânicos não o pouparam. Os tabloides The Sun e The Daily Mail marcaram-no como "um dos maiores fracassos da família real", acusando-o de ignorar os limites da responsabilidade e de não ter demonstrado qualquer remorso genuíno.
A pressão pública era grande. O príncipe Andrew foi rapidamente afastado de todos os compromissos reais pela mãe, ainda viva, perdendo funções e representações oficiais. As imagens de um príncipe à margem da realeza começaram a ser uma constante. Perdeu os títulos honorários que ainda possuía, incluindo o de enviado especial para o comércio internacional. E a sua presença em eventos reais tornou-se irrelevante.
Mas a relação com Epstein foi só a ponta do iceberg, pois não tardaram novas revelações sobre o seu envolvimento com uma série de figuras suspeitas, incluindo elementos ligados ao mundo da espionagem internacional.
A situação financeira do príncipe Andrew também se deteriorou. Sem fontes de rendimento próprias, viu-se obrigado a depender da ajuda financeira da rainha Isabel II para manter o estilo de vida, marcado por propriedades luxuosas e despesas elevadas. A sua dependência da mãe e a falta de apoio público reforçaram a ideia de que Andrew estava cada vez mais distante do que representava a monarquia.
E recentemente voltou às capas dos jornais por, apesar de tudo, continuar a viver na residência de Royal Lodge, em Windsor, uma propriedade real de grande valor e cuja renda, segundo o New York Times, o duque de Iorque não paga há mais de 20 anos.
A acusação de abuso sexual, o fracasso na defesa pública, o afastamento de funções reais e os problemas financeiros acabaram por levar , há dias, o príncipe a abdicar (sozinho ou por pressões da Casa Real) do título de duque de Iorque. As histórias de encantar nunca mencionaram príncipes que viram sapos. Mas neste conto, tão real quanto o mundo permite, aconteceu.
Andrew Edward
Cargo Príncipe e ex-duque de Iorque
Nascimento 19/02/1960 (65 anos)
Nacionalidade Londres (Reino Unido)