Luís Filipe Vieira não é um caso único. Há dezenas de outros homens que, ao longo da História, e com mais importância do que o ex-presidente do Benfica, não conseguem ver que já passou o seu tempo. O poder é uma droga dura que pode causar dependência - as pessoas que o têm, que experimentam o seu inconfundível travo, precisam de exercitar o músculo do desapego, de ter presente que não há nada de mais ridículo do que alguém perder a noção de si próprio. Vê-lo na campanha, arrogante como sempre, mas sem perceber que as pessoas já não o suportavam, foi um momento deprimente. No F. C. Porto, Pinto da Costa candidatou-se uma última vez, mas sabia que a derrota era inevitável e o fim estava próximo - ele próprio mo disse numa conversa telefónica que não esqueço. Já Vieira preferiu usar o mesmo espelho da bruxa da Branca de Neve, perguntou-lhe quem era o mais belo e acreditou na resposta que desejava ouvir. A droga do poder contaminou-lhe as veias e enlouqueceu-o de si próprio. As eleições do Benfica foram esmagadoras na participação e claras sobre a escolha dos sócios. Sociologicamente muito interessante a maneira como as "elites", quase todas com Noronha Lopes, não foram suficientes para ganhar as eleições. Rui Costa não precisou de ninguém ao seu lado para quase ser eleito com maioria absoluta e Noronha, tendo ao seu lado algumas das figuras mais populares e respeitadas do país, perdeu quase irremediavelmente. Já ninguém ganha eleições, na política ou no desporto, com comissões de honra, canapés e champanhe francês.