"Num período em que precisamos de pessoas com alguma dureza, pouca moleza e alguma decisão, esse é outro dos elementos que eu terei em conta. Este tempo não está para brincadeiras", afirmou Pacheco Pereira, social-democrata que não dá como certo que o seu voto vá parar a Marques Mendes, o candidato presidencial oficialmente apoiado pelo PSD. Claro que a dureza a que se referiu o comentador televisivo não é um princípio geral, sendo antes dirigido contra todos os que pretendem desmantelar o sistema constitucional (há quem diga que são precisos três salarazes para colocar o país na ordem), numa altura em que o cenário é de profunda agitação criada por Donald Trump e pelas guerras na Ucrânia e no Médio Oriente.
Atravessemos o Atlântico, rumo à Argentina. Aí, Javier Milei, conhecido de André Ventura (líder do Chega e candidato presidencial) e amigo do peito de Donald Trump, ganhou novo fôlego. La Libertad Avanza, partido por si liderado, ganhou as legislativas. Mas afinal o que se passou? Os argentinos gostam mesmo do ultraliberalismo? Pablo Vaca, jornalista do "Clarín", o maior diário do país, surpreende ao confirmar que este é o tempo áureo dos radicais. "O resultado demonstra que estas não são épocas para moderados: o fracasso das opções de centro foi estrondoso".
Pablo confidencia-me que o medo imperou. "Muitos argentinos valorizam a queda da inflação e entendem que não havia outro remédio. Não querem voltar ao passado do 'kirchnerismo', uma força que já fracassou várias vezes. Deve ter pesado também a ameaça prévia de Donald Trump, quando disse que se Milei não ganhasse ele ia retirar o seu apoio financeiro". Este é o tempo de ser duro com quem vê no radicalismo a cura para todas as "doenças" sociais e económicas.