Opinião

A PJ e o post sobre violação

As forças policiais portuguesas têm uma boa presença nas redes sociais. Mérito do trabalho delas, que não precisam de recorrer a agências de comunicação ou a influencers para saberem ocupar um espaço já por si difícil para qualquer organismo do Estado. Uma publicação a propósito da série "Adolescência" sobre os emojis que representam órgãos sexuais, conteúdos eróticos e drogas é um bom exemplo de uma ação preventiva da PSP.

Mas nem sempre corre tudo bem. A PJ está debaixo de fogo devido a um post sobre a violação de uma jovem em Lisboa. A Polícia descreve que o caso aconteceu "na sequência de uma saída noturna, na qual a vítima acabou em estado de inconsciência após consumo excessivo de álcool". A mensagem termina com uma pergunta: "Quando se sai à noite, nunca se pensa neste desfecho, pois não?". Como seria de esperar, a publicação foi muita criticada e o Movimento Democrático de Mulheres apresentou uma queixa à Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género. Argumenta que a publicação promove "uma responsabilização das mulheres e desculpabiliza os agressores por práticas criminosas". Certamente, não terá sido esse o objetivo da PJ. A publicação poderia ter tido outro enquadramento, mas está longe de inocentar predadores sexuais.

A PJ usa os canais online para alertar os cidadãos sobre crimes, como a partilha de imagens íntimas, contactos perigosos, entre outros, enquanto a PSP foca as suas mensagens em burlas e esquemas de investimento via redes sociais. As forças policiais usam as plataformas digitais como parte de uma estratégia de policiamento de proximidade. Devemos estar agradecidos por isso.

Manuel Molinos