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Macron anuncia destacamento de 100 polícias para a Faixa de Gaza

O presidente francês, Emmanuel Macron Foto: Ludovic Marin / AFP

O presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou esta terça-feira que pretende destacar mais de 100 polícias militares (gendarmes) para reforçar as autoridades palestinianas na Faixa de Gaza, através de missões de controlo de fronteiras da União Europeia.

"A estabilização de Gaza depende do destacamento das forças de segurança e da polícia da Autoridade Palestiniana para garantir a ordem e a segurança diária, em conjunto com os mecanismos que estão a ser discutidos nas Nações Unidas", declarou Macron.

O líder francês falava aos jornalistas após uma audiência com o presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas, no Palácio do Eliseu, em Paris, e indicou que ambos concordaram com a criação de "uma comissão conjunta para a consolidação do Estado da Palestina", que trabalhará em questões legais, constitucionais e institucionais.

Uma das principais tarefas desta estrutura será a elaboração de uma nova Constituição, para a qual o líder palestiniano já preparou uma primeira versão.

Nas suas declarações, o presidente francês defendeu também a prioridade de eleições na Cisjordânia, ao mesmo tempo que condenou os planos de expansão de colonatos israelitas nos territórios ocupados.

Os planos de anexação "parcial ou total" da Cisjordânia por Israel, incluindo a anexação "de facto" através da construção de colonatos, "constituem uma linha vermelha", segundo Macron, que merecerá uma forte reação de Paris e dos seus aliados se forem implementados.

"A violência dos colonos e a aceleração dos projetos de colonatos estão a atingir novos níveis que ameaçam a estabilidade da Cisjordânia e constituem violações do direito internacional", alertou.

Macron quer evitar "um fracasso coletivo"

A França pretende que a força internacional de estabilização, em discussão no Conselho de Segurança da ONU e baseada num plano promovido pelo presidente norte-americano, Donald Trump, permita que as forças palestinianas assumam o controlo da Faixa de Gaza assim que o grupo islamita Hamas for desarmado e deposto.

Macron insistiu hoje que o seu país "não quer ver o Hamas restabelecer-se e retomar o controlo da Faixa de Gaza", considerando que, para evitar o que seria "um fracasso coletivo", é urgente trabalhar para o rápido regresso da Autoridade Palestiniana.

O presidente francês realçou que a prioridade na Faixa de Gaza é, porém, "a emergência humanitária, a entrega imediata, segura e sem entraves" de ajuda a todo o território, sob a supervisão da ONU.

Indicou também que a França contribuirá com 100 milhões de euros este ano para as necessidades humanitárias da Cisjordânia e especificou que haverá envios de emergência de centenas de toneladas de suplementos alimentares, particularmente para crianças, bem como medicamentos e equipamento médico.

Solução de dois Estados para "viver em paz"

Macron reiterou que as reformas da Autoridade Palestiniana são uma condição essencial para o estabelecimento de um Estado estável e sublinhou a importância que atribui ao compromisso de Abbas com eleições "livres e transparentes" no prazo de um ano.

Nas suas declarações e sem direito a perguntas, o chefe de Estado francês reiterou a posição de que "só uma solução de dois Estados permitirá aos povos palestiniano e israelita, bem como toda a região, viver em paz e segurança".

A França foi um dos dez países ocidentais que, no final de setembro, reconheceram o Estado Palestiniano, apesar dos protestos de Israel.

O acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza entre Israel e Hamas, em vigor desde 10 de outubro, inclui a troca de reféns e prisioneiros, a retirada parcial das forças israelitas do enclave e o acesso de ajuda humanitária ao território.

A etapa seguinte, ainda por acordar, prevê a continuação da retirada israelita, o desarmamento do Hamas, bem como a reconstrução e a futura governação do enclave.

A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada pelos ataques liderados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023 no sul de Israel, nos quais morreram cerca de 1200 pessoas e 251 foram feitas reféns.

Em retaliação, Israel lançou uma operação militar em grande escala na Faixa de Gaza, que provocou mais de 69 mil mortos, segundo as autoridades locais controladas pelo grupo islamita, a destruição de quase todas as infraestruturas do território e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas.

JN/Agências