Opinião

Crimefluencers, os monstros impúberes

Tenho dito e repetido ao meu filho que os monstros não existem. Será uma questão de tempo até ter de lhe explicar o contrário. É bastante ultrapassada a ideia de que é preciso uma aldeia para proteger uma criança. Hoje, com os avanços da tecnologia, é preciso mesmo um país. A reflexão certeira de Krissy Barrett, a nova comissária federal da Polícia australiana, a primeira mulher no cargo, foi proferida numa conferência de Imprensa onde destacou os perigosos crimefluencers, indivíduos que usam a sua notoriedade online para perpetrar crimes reais. A polícia recusou divulgar os nomes das redes a que pertencem para não as glorificar, apesar de ter explicado que se movimentam em plataformas de conversa como o Telegram e o Discord, e descreveu uma nova realidade criminal com que se deparam as famílias e as autoridades de todo o Mundo. Nesses grupos onde se caçam as vítimas, maioritariamente meninas, pré-adolescentes e jovens, incentivam-se crimes reais, físicos, violentos, sádicos, nazis, racistas, misóginos, entre outros. Krissy, que cresceu nos anos 90, sem perfis, likes, ou lives, falou pausadamente, e cirurgicamente explicou que as famílias têm de explicar aos mais novos que têm direito a sentir-se seguros online, que quando se sentirem incomodados, perturbados, acossados na net, têm o direito de abandonar um chat, de procurar um adulto e expor o que sentem e vivem. Num estudo divulgado em 2024, 70% dos jovens admitia ter-se envolvido em comportamentos perigosos, desviantes e criminosos online. A pirataria é banal quando nos deparamos com estes monstros impúberes. O que tudo isto mostra é que, às vezes, o monstro está escondido no bolso dos nossos filhos, e que a maldade não tem fronteiras, nem limites.

Joana Almeida Silva