Praça da Liberdade

Dia Mundial dos Pobres – Da assistência ao cuidado

Há muitos anos que a Organização das Nações Unidas (ONU) assinala, a 17 de outubro, o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza. Em cada ano, propõe um tema para galvanizar os cidadãos do mundo inteiro em torno de condições essenciais para a erradicação da pobreza. Trata-se de sensibilizar as nações para o contributo que cada uma deve dar para erradicar a pobreza absoluta. O fundamento é que a pobreza não é uma fatalidade, e a motivação aponta para a necessidade de uma justa partilha de bens. Está provado que existem recursos financeiros para que cada pessoa possa viver com dignidade. O problema é que vivemos numa civilização nada igualitária, fazendo com que um terço dos habitantes se apropriem dos bens da terra. O que está em causa é o fomento das desigualdades. Só políticas, internacionais e nacionais, de âmbito público e transversal poderão obviar a esta injustiça mundial.

O Dia Mundial dos Pobres é uma feliz iniciativa do saudoso Papa Francisco que, há nove anos, instituiu esta data para que os cristãos católicos, individualmente ou nas suas paróquias, possam refletir sobre as suas obrigações fraternais para com os pobres e, no dia indicado, possam ter um gesto, sobretudo comunitário, em que testemunhem que a sua opção é a defesa, incondicional, dos mais empobrecidos e excluídos da sociedade. Este ano, ocorre no dia 16 deste mês e tem como tema para este ano é "tu és a minha esperança". O Papa Leão XIV escreveu uma Mensagem com este título, retirado do Salmo 71. Trata-se de um convite à esperança em Deus. Porém, ela só será eficaz se passar pelo cuidado de todos os que professam a fé católica assumirem o dever de praticarem o bem em favor de todos, preferencialmente, dos mais pobres. Esta obrigação expressa-se no cuidar que é muito mais fraternal que o assistir.

O Papa, na sua mensagem, afirma que "a pobreza tem causas estruturais que devem ser enfrentadas e eliminadas. À medida que isso acontece, todos somos chamados a criar novos sinais de esperança que testemunhem a caridade cristã, como fizeram, em todas as épocas, muitos santos e santas. (...) são tantos sinais, muitas vezes ocultos, aos quais talvez não prestemos atenção, mas que são muito importantes para se desenvencilhar da indiferença e provocar o empenho nas diversas formas de voluntariado!". Esses sinais não se ficam por ações de assistência aos pobres que se expressam, como sabemos, na entrega de géneros alimentares ou distribuição de refeições e de vestuário; no pagamento de rendas de casa em atraso ou da eletricidade, da água, do gás, das propinas a quem frequenta o ensino superior..., mas cuidam do próximo.

Quem cuida faz-se próximo. Tem compaixão, entendida não como uma comiseração, mas como quem ama sem condições. Para isso é preciso ver no pobre um irmão ou irmã com os mesmos direitos e deveres que os demais. Aproximar-se para fazer caminho e ir assim, descobrindo as capacidades que a pessoa em situação de pobreza tem e, com ela, colocá-las a render. Este caminho é fundamental para a autonomia financeira de cada pessoa, sem a qual não tem possibilidades de, per si, assumir os encargos com a sua digna subsistência.

Cuidar é não matar a esperança a ninguém em situação de fragilidade económica e social, mas ir caminhando, passo a passo, no desbravar de possibilidades que venham a desembocar em etapas de inclusão social.

Uno-me ao Papa na congratulação "com as iniciativas já existentes e com o empenho que é manifestado diariamente a nível internacional (acrescento: a nível nacional e local, sem esquecer os serviços paroquiais da ação social) por um grande número de homens e mulheres de boa vontade.".

É, por fim, desejável que o dia dos pobres não seja apenas um, mas todos os dias e a qualquer hora.

Eugénio Fonseca