A política, no seu sentido mais geral, não é muito apreciada pelos cidadãos. Deixou de ser uma atividade prestigiante e de serviço. Contudo, não terá sido sempre assim?
De certeza que foi em todos os tempos e, para isso, se fizeram revoluções ou reformas para se alterar o estado das coisas.
Quem não se lembra da famosa palestra de Max Weber sobre a política e a técnica? Nela, Weber concluía que existiam duas maneiras de fazer política: uma como profissão e outra por vocação.
Hoje, talvez resida aqui as diferenças dos tempos. Não estamos no tempo em que só as elites faziam a política, pois, entre outras coisas, a sua atividade não era remunerada. É natural que, em sistemas democráticos, as juventudes dos partidos políticos sejam o campo de recrutamento. O grau de escrutínio é de uma enorme exposição mediática, o que acaba por atrair pouco os mais bem preparados da sociedade, até porque as remunerações não são aliciantes.
Então, o que pode motivar um cidadão a querer ser útil ao seu país? Alguns aparecem no final de uma carreira profissional de sucesso para darem o seu contributo. Outros aproveitam a onda oportuna e temática do momento para se apresentarem.
Em toda a Europa democrática, e mesmo nos Estados Unidos, existe essa falta de pessoas com vontade de servirem as suas comunidades num verdadeiro espírito de missão.
Ora, a política é uma nobre arte do exercício da responsabilidade cívica de cada um. Por isso, a democracia representativa soube sempre ser a melhor e mais eficaz forma do exercício do princípio da separação dos poderes.
Estamos a viver um tempo complexo, pois os que conseguem ter sucesso na ação política são os que acabam a dizer mal do sistema político e acusam os seus adversários trazendo-os para a lama e para a maledicência.
Dizia William Shakespeare que "é uma infelicidade da época que os doidos guiem os cegos". Isto é, os populistas representam aqui os doidos que nos querem guiar, a nós, os cegos, que não vemos a necessidade de mudar.
As próximas eleições presidenciais vão trazer alguma novidade para responder a este estado das coisas. O recurso às redes sociais e o contacto direto com o eleitor vão ser decisivos para a escolha de cada um do seu candidato.
Anne Applebaum, no seu livro "Crepúsculo da democracia", deixa-nos uma reflexão que aqui merece partilha: "É possível que estejamos a viver já o crepúsculo da democracia, que a nossa civilização se dirija já para a anarquia ou para a tirania, como os filósofos antigos e os fundadores dos Estados Unidos outrora recearam, que uma nova geração de "cleres", ou defensores de ideias iliberais ou autoritárias, ascendam ao poder no século XXI, tal como ascenderam no século XX; que as suas multividências, nascidas de ressentimentos, raiva ou visões profundamente messiânicas, venham a triunfar. Talvez as novas tecnologias da informação continuem a sabotar os consensos, a dividir ainda mais as pessoas e a aumentar a polarização até ao ponto em que apenas a violência poderá determinar quem governa."