Uma parafarmácia sem empregados, sem senhas, sem filas, totalmente gerida por inteligência artificial (IA), abriu ontem em Lisboa. É este o presente. Porém, nos últimos dias, enquanto o Governo foi acusado de querer desregular direitos dos trabalhadores e a UGT e a CGTP anunciaram uma greve geral conjunta, quase não se ouviu uma palavra sobre a transformação estrutural que a tecnologia está a impor ao mercado de trabalho.
Afinal, o que pensa o Governo sobre o impacto da IA no emprego? Qual é a estratégia do Estado para as profissões que começam a ser ameaçadas ou reconfiguradas? Que políticas estão a ser desenhadas para a formação ou requalificação dos trabalhadores?
A automação inteligente já entrou nos bancos, nos seguros, nas fábricas, nas vendas, na saúde, nas redações, entre tantos outros setores. Segundo um estudo do FMI, afetará 40% dos trabalhadores. Um relatório da Amazon conclui que 41% das empresas portuguesas já utilizam a ferramenta. No entanto, outro estudo refere que a tecnologia ainda não está a ser adotada de forma estratégica. O país corre o risco de a usar como mera curiosidade, sem ganhos reais de produtividade, alerta o relatório da Magma Studio, elaborado em parceria com a CIP.
Não sabemos como serão protegidas as profissões ameaçadas, de que forma será compensada a perda de postos de trabalho em setores críticos ou como será assegurado que os ganhos de produtividade gerados pela IA se traduzem em melhores salários e não apenas em reduções de custos. Não basta negociar a flexibilidade dos horários, os bancos de horas, as regras contratuais ou as indemnizações. Reformar a lei laboral sem considerar o impacto da IA é legislar de olhos fechados.