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Trump confirma ultimato a Kiev para responder a plano de paz até quinta-feira

O presidente norte-americano, Donald Trump Foto: Brendan Smialowski / AFP

O presidente norte-americano, Donald Trump, confirmou esta sexta-feira um ultimato ao homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, para que aceite o plano de paz da Casa Branca para o conflito na Ucrânia até quinta-feira, Dia de Ação de Graças.

"Se tudo correr bem, os prazos podem ser alargados. Mas quinta-feira é o dia que consideramos apropriado", afirmou o líder norte-americano em entrevista à Fox Radio.

As declarações do presidente norte-americano confirmam uma notícia de hoje do jornal "The Washington Post", que já indicara aquele prazo, sob ameaça de Kiev perder o apoio dos Estados Unidos.

Donald Trump observou também que os Estados Unidos já transferiram "o melhor equipamento militar do mundo" para a Ucrânia.

O plano da Casa Branca (presidência norte-americana) corresponde às principais exigências russas, ao prever que Kiev retire as suas tropas das áreas que ainda controla no Donbass, região no leste do país que inclui as províncias de Lugansk e Donetsk, uma substancial redução do seu efetivo militar e a renúncia à adesão da NATO, em troca de garantias de segurança para prevenir uma nova agressão russa.

O presidente norte-americano argumentou, na entrevista à Fox, que as forças ucranianas já estão a "perder território", num conflito que descreveu como "fora de controlo, um massacre".

Questionado sobre a possibilidade de o presidente russo atacar outros países europeus no futuro, Trump manifestou a sua convicção de que Vladimir Putin "não está à procura de mais problemas" e que aprendeu a lição de uma guerra "que deveria ter durado um dia e já dura há quatro anos".

Destacou ainda que hoje entraram em vigor novas sanções norte-americanas contra as duas maiores petrolíferas russas, Rosneft e Lukoil, que descreveu como "muito poderosas".

"Um dos momentos mais difíceis"

Embora as fugas de informação indiquem que o plano foi negociado entre os Estados Unidos e a Rússia, a Casa Branca mantém que falou "de igual para igual" com a Ucrânia.

Em reação ao plano de Washington, o presidente ucraniano afirmou hoje que se recusa a trair a nação e anunciou que vai propor alternativas.

"Apresentarei argumentos, persuadirei e proporei alternativas", disse o líder ucraniano numa declaração por vídeo à nação, na qual sublinhou que não trairá o seu país.

Zelensky avisou que este "é um dos momentos mais difíceis e de maior pressão" da história da Ucrânia, que se confronta com "escolhas muito difíceis" face à proposta de 28 pontos.

"Ou perde a sua dignidade, ou corre o risco de perder um aliado fundamental" declarou, referindo-se aos Estados Unidos, e acrescentando: "Ou 28 pontos difíceis, ou um inverno extremamente complicado".

Advertindo que "o interesse nacional da Ucrânia deve ser tido em conta" e que exige um "tratamento justo" para o seu país, Zelensky mantém a disponibilidade para negociar com os Estados Unidos e com os seus parceiros, apesar de prever que as futuras conversações "serão muito difíceis".

Zelensky já falou hoje por telefone com o vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, para encontrar um caminho para uma solução do conflito, iniciado com a invasão russa em fevereiro de 2022.

"Conseguimos abordar muitos detalhes das propostas dos Estados Unidos para o fim da guerra e estamos a trabalhar para que o caminho a seguir seja digno e verdadeiramente eficaz para alcançar uma paz duradoura", escreveu Zelensky nas redes sociais.

Na conversa participou também o secretário do Exército norte-americano, Dan Driscoll, que na véspera tinha entregado oficialmente o plano de paz a Kiev.

O presidente ucraniano referiu ainda que concordou com Vance em trabalhar em conjunto com a Europa "ao nível dos conselheiros de segurança" para avançar com o objetivo da paz.

"A Ucrânia sempre respeitou e continua a respeitar o desejo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de acabar com o derramamento de sangue, e vemos com bons olhos qualquer proposta realista. Concordámos em manter um contacto constante", concluiu.

Tropas ucranianas enfrentam forte pressão

A presidência russa indicou hoje que ainda não recebeu oficialmente a proposta dos Estados Unidos, mas advertiu que o líder ucraniano deve negociar o fim da guerra, sob pena de perder mais territórios.

Zelensky falou hoje também por telefone com os líderes alemão, francês e britânico para se assegurar de que as posições de princípio de Kiev têm o apoio europeu.

Friedrich Merz, Emmanuel Macron e Keir Starmer saudaram os "esforços norte-americanos" para pôr fim à guerra e asseguraram ao líder ucraniano o "apoio total e inalterado no caminho para uma paz duradoura e justa", segundo o Governo alemão.

As tropas ucranianas enfrentam uma forte pressão no leste e sul do país, onde as forças russas progrediram nas últimas semanas.

A Rússia tem ainda saturado as infraestruturas energéticas ucranianas com bombardeamentos intensivos quase diários, enquanto Kiev pede aos seus aliados mais defesas antiaéreas e realiza ataques em profundidade em solo russo contra o aparelho de guerra de Moscovo.

JN/Agências