É cada vez mais difícil refletir sobre o estado da nossa saúde. Isto porque o tema tem vindo a tornar-se muito complexo e multivariável e as suas ramificações e interdependências não param de crescer. Acresce que a sua hipermediatização causa elevado ruído, não sendo fácil distinguir o essencial do acessório e mesmo a verdade da especulação ou até de meras manobras de distração provocadas pelos inúmeros interesses em presença, na sua busca do melhor lugar possível à mesa do orçamento.
No entanto, a centralidade do assunto e, sobretudo, a sua importância determinante para a nossa atual e futura qualidade de vida tornam tal reflexão, diria, uma obrigação de cidadania. Irei mesmo mais longe, dizendo que não temos o direito de deixar que os outros decidam por nós, seja por ação ou por omissão.
Deixem-me mesmo enfatizar um pouco mais: os desafios que sobre a saúde estão hoje em cima da mesa são de tal dimensão e impacto, que todos nos devemos sentir convocados para sobre eles não só nos pronunciarmos, como encontrarmos formas de fazer valer as nossas opções.
Acredito que o principal agente da mudança terá mesmo de ser uma opinião pública informada, ativa e respeitada. Estamos ainda longe disso, mas também a este nível a realidade pode ser muito dinâmica e surpreender-nos no melhor dos sentidos. O facto de as associações de doentes (que todos somos, fomos ou seremos) começarem a surgir de forma abundante, ainda que na proporção inversa da sua capacidade de pressão e de fazer acontecer, não pode deixar de ser considerado um bom indício.
A qualquer olhar, mais ou menos informado, mais ou menos interessado, sobre a realidade presente, surge cada vez mais evidente uma enorme falta de coordenação nas e das diferentes valências do SNS. Mesmo descontando o já referido ruído da mediatização, a, pelo menos aparente, falta de rumo é patente. Esta constatação ganha mais nitidez com a falta (ou, pelo menos, o não conhecimento - o que, para os devidos efeitos, dá igual) de um plano de ação e de uma estratégia.
E aqui continuo a acreditar que a criação da Direção Executiva do SNS, com este ou com outro qualquer nome, foi e continua a ser uma boa ideia. Julgo que estaremos (quase todos) de acordo em que uma vez fixadas as opções políticas sobre o modelo a adotar pelo sistema nacional de saúde e muito em particular pela sua espinha dorsal, o Serviço Nacional de Saúde, a gestão deste deveria ser essencialmente técnica, valendo-se aqueles a quem cabe essa responsabilidade das melhores e mais modernas ferramentas disponíveis para o efeito.
Não é preciso inventar: veja-se o que cá, como em qualquer outra parte do Mundo civilizado e competitivo, se faz quando se pretende gerir, de forma eficiente e com entrega de resultados, estruturas organizativas dinâmicas, complexas, multicêntricas e modernas. Ora, no contexto nacional, não encontro nada que se compare em dimensão, complexidade e importância, pelo que o melhor que temos e sabemos deve aqui ser aplicado.
O que julgo não pode acontecer é a situação atual de indefinição sobre qual o papel, funções e missão da Direção Executiva, pairando há demasiado tempo no ar se é mesmo para continuar ou vai ser para acabar. Será a tal falta de rumo?