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Jornalista turco condenado a mais de quatro anos de prisão por ameaçar Erdogan

Recep Tayyip Erdogan, presidente turco Foto: Halden Krog / EPA

Um tribunal turco condenou esta quarta-feira o jornalista veterano Fatih Altayli a quatro anos e dois meses de prisão por ameaças indiretas contra o presidente Recep Tayyip Erdogan, que sempre negou.

O tribunal de Istambul decidiu também manter Altayli na prisão por haver risco de fuga, apesar da esperança de que pudesse ser libertado após passar mais de 150 dias em prisão preventiva e não ter qualquer condenação prévia.

Os advogados do jornalista anunciaram que vão recorrer da sentença, segundo a agência de notícias espanhola EFE. Caso o recurso não seja bem-sucedido, o jornalista de 63 anos deverá permanecer na prisão por mais dois anos e dois meses.

Altayli foi detido em 22 de junho, depois de a procuradoria o ter acusado de "fazer declarações ameaçadoras" sobre Erdogan num canal no YouTube.

Com uma longa carreira em cargos diretivos de meios de comunicação turcos, Altayli tornou-se nos últimos anos um comentador influente graças ao canal de YouTube, que tinha centenas de milhares de seguidores.

Na retransmissão que motivou a detenção, comentou uma sondagem sobre a possibilidade de Erdogan permanecer no poder para sempre.

Altayli defendeu que o eleitorado turco valoriza as urnas e, numa longa reflexão, mencionou o passado do Império Otomano.

"Olhem para o passado desta nação. Não falo do passado recente, mas do remoto. Esta é uma nação que estrangulou o seu sultão quando não gostava dele, quando não o queria", afirmou então.

"Alguns sultões otomanos foram assassinados, executados, estrangulados ou foi feito parecer que se suicidaram", acrescentou.

O fragmento sobre sultões otomanos que foram assassinados ou depostos por rejeição popular circulou nas redes sociais fora de contexto e como se fosse uma ameaça a Erdogan por perfis ligados ao Governo.

O assessor presidencial Oktay Saral publicou nas redes sociais uma mensagem dirigida a Altayli antes de o jornalista ser detido. "Altayliííí! A tua água está a começar a ferver", escreveu Saral.

Altayli sempre negou ter ameaçado Erdogan e sustentou que apenas utilizou uma referência histórica para sublinhar que o povo turco nunca renunciaria ao direito de eleger os seus dirigentes.

Durante a alegação final, Altayli mostrou-se surpreendido pelo pedido do procurador, que solicitou pelo menos cinco anos de prisão, e defendeu que o que disse não podia ser interpretado como uma ameaça.

"Outros que disseram coisas muito mais duras foram absolvidos. É impossível que as minhas palavras assustem o Presidente. (...) Porque é que ele me haveria de temer? Não pertenço a nenhuma organização, nunca recorri à violência", afirmou.

JN/Agências