"Sonhos", do norueguês Dag Johan Haugerud, é uma singular história de primeiros amores na adolescência.
Foi o surpreendente Urso de Ouro do Festival de Berlim 2025. Faz parte de uma trilogia, realizada pelo norueguês Dag Johan Haugerud, mas os filmes são autónomos e podem ser vistos em qualquer ordem. "Sexo" estreou na semana passada, "Amor" pode esperar pela próxima, "Sonhos" chega esta quinta-feira às salas portuguesas de cinema.
"Sonhos" é uma delicada abordagem do primeiro amor, ou daquele sentimento que muitos de nós tivemos durante a juventude por algum dos nossos professores - como acontece a Johanne, a adolescente protagonista, que se ausenta por completo de tudo o que não seja o seu intenso desejo pela nova professora.
Conseguindo convencê-la a dar-lhe aulas de tricô - atividade muito popular hoje na Noruega entre jovens de todos os sexos - passa a ir a casa da professora com regularidade, mas sem ter coragem de expressar os seus sentimentos.
Decide então escrever um pequeno livro onde explicita a sua paixão, e acaba por partilhar o texto com a avó. Como esta é poeta e com experiência de vida, compreende-a, e fica tocada pelo seu sentido literário, mas acaba por dar a lê-la à mãe de Johanne, que reage de outra maneira...
O filme de Dag Johann Daugerud expressa-se através de uma linguagem minimalista e não escapa a uma certa frieza habitual no cinema nórdico. É também essa a visão do tema central do filme, entre os primeiros amores e a homossexualidade, o rigor do sistema de educação, a passagem de testemunho entre mulheres de várias gerações, o tecido familiar em que se inscrevem.
Apesar dessa distanciação emocional, ou porventura por isso mesmo, "Sonhos" acaba por atingir a sua universalidade. O filme tem uma estrutura narrativa original e muito subtil, mas estará longe de uma linhagem de vencedores do prémio maior do Festival de Berlim. Ou então é o cinema que já não é o mesmo.