João de Melo partilha o seu quotidiano de vida e escrita em "Novas fases da lua".
"Aproximação ao leitor, tanto na expressão sentimental como pelas ideias que a realidade foi suscitando ao longo deste tempo de agora e de sempre", nas palavras de João de Melo, "Novas fases da lua" é, na realidade, bem mais do que um simples diário no qual o autor açoriano foi anotando a passagem avulsa dos dias. É matéria pulsante de vida, impregnada de alegrias, desencantos, confissões ou dúvidas, como se o leitor fizesse também ele parte do quotidiano íntimo do autor de "O meu mundo não é deste reino".
Com mais de três dezenas de livros publicados ao longo dos últimos 50 anos, cobrindo os romances, contos, crónicas, antologias, textos ensaísticos, livros de viagem e poesia, Melo criou um microcosmos literário muito próprio, no qual os seus amados Açores são a razão primeira e última.
O diário surge assim como um desdobramento mais de uma escrita que nunca abdicou dos seus princípios fundamentais por modismos ou procurou soluções mais fáceis e populares. Convencido de que "a grande literatura se faz com a laboriosa paciência do inventário, com atenção e rigor máximo ao pormenor", "num fervor de festa interior" que convoca os leitores, encontrou no registo diarístico uma solução ágil para manter intacta a paixão pela escrita ("quando deixar de escrever, quero deixar de viver", afirmou hás dias numa entrevista ao JN), ao mesmo tempo que assinala um motivo mais para estar atento à realidade circundante.
Abarcando sete anos de notas, entre 2017 e 2024 (com uma pausa de dois anos pelo meio devido a problemas de saúde), "Novas fases da lua" torna-nos testemunhas e cúmplices de uma realidade pessoal que o escritor partilha sem receio de expor fragilidades, ao mesmo tempo que evita o ensimesmamento que afeta muitos autores consagrados a dada altura do seu percurso.
Com guerras e tensões a atravessarem o Mundo, conferindo-lhe uma carga de incerteza notória, João de Melo comenta a realidade circundante sem a pretensão de ter a chave para todas as respostas, mas apenas imbuído da certeza do imperativo de defesa da humanidade enquanto instrumento decisivo para travar a tentativa de barbárie.
A par de "Novas fases da lua", João de Melo publicou ainda nos últimos meses a antologia de contos "A nuvem no olhar".