Opinião

A greve que ninguém quer

É coisa de déjà-vu. A greve geral anunciada para 11 de dezembro não é desejada por ninguém. Os trabalhadores não a querem, os sindicatos também não, o Governo nem pensar. Mas a sua possibilidade está aí.

Déjà-vu, visto que a sensação é igual à que se impôs o ano passado, quando o país foi empurrado para eleições antecipadas, apesar do consenso de que seria melhor evitar a terceira ida às urnas em três anos. As negociações entre partidos falharam e o Parlamento fez cair o Governo, mesmo perante um eleitorado cansado, que não percebia a razão de ir outra vez a votos.

Conhecemos os resultados. O populismo aumentou, o descrédito pela política e pelos políticos está à vista de todos. No essencial, tudo ficou praticamente na mesma.

A ameaça da greve geral paira no ar. Tal como nas eleições antecipadas, ninguém quer admitir a responsabilidade pelo que se aproxima. Os sindicatos dizem que é o último recurso, o Governo afirma que é um exagero e o povo percebe que terá mais um dia difícil nas escolas, nos hospitais, nos transportes, etc. Talvez por isso mesmo Luís Montenegro tenha assumido a liderança das negociações. Dizem-nos que a reunião de quarta-feira veio desanuviar o ambiente, mas a UGT mantém-se firme, em convergência com a CGTP, na greve geral marcada para 11 de dezembro.

A vida de quem trabalha não é fácil. As propostas da nova lei laboral não podem diminuir direitos, mas têm mesmo de ser revistas e adaptadas a uma realidade em que a inteligência artificial está a transformar o mundo do trabalho. Portanto, a greve geral só terá significado se produzir resultados concretos. Caso contrário, será mais um déjà-vu.

Manuel Molinos