Praça da Liberdade

Assim não

Falei com entusiasmo de um violinista que enchia as tardes de sonoridades na esquina de Cândido dos Reis e de um clarinetista inglês que tocava Benny Goodman, na entrada de Cedofeita, porque gostava. Ainda elogiei os músicos ambulantes, que paravam em Santa Catarina. E devo ter escrito mais sobre a atractividade que podem transmitir ao ambiente da cidade. No entanto...

Fui há dias almoçar com uma moradora em S. Domingos, no coração histórico. Desde que cheguei até que saí da casa, de onde se domina todo o largo, o espaço foi inundado pelos sons estridentes, e a partir de algumas horas insuportáveis, de guitarra eléctrica amplificada por colunas. O resultado era um local transformado em ruído para os turistas dos restaurantes e a vizinhança sobrevivente.

A anfitriã desabafou: "É isto todos os dias, até à noite. Estou farta". E mais: "Começo a interrogar-me se vale a pena viver no Centro Histórico". Quando saí, a chinfrineira continuava. Subi a Rua das Flores e, a certa altura, só a custo consegui passar: uma tuna masculina que ali musicava interrompia a circulação. Furei, aos encontrões, e, quando cheguei a S. Bento, outra tuna (feminina) barrava a passagem. Na confusão, voltei para trás por Trindade Coelho. Disto está o turismo inocente. A culpa é nossa, que toleramos a sujeição da cidade a quem não a respeita. Que os músicos continuem a tocar, mas sem amplificadores e as tunas actuem em espaços amplos: Leões, Cordoaria, Avenida, Carlos Alberto, etc. Se quisermos um Porto que valha a pena, temos de o defender. A começar pelo Município que deve regular este desregramento.

(O autor escreve segundo a antiga ortografia)

Helder Pacheco