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Ucrânia e aliados aumentam pressão para influenciar plano de paz

O presidente ucraniano (esquerda) após a reunião em Paris com o homólogo francês (direita) Foto: Stephane de Sakutin / AFP

O presidente ucraniano procurou reforçar, esta segunda-feira, o apoio europeu à Ucrânia num momento crucial na batalha de Kiev contra a invasão russa, reunindo-se com o homólogo francês em Paris. Volodymyr Zelensky quer garantir o fim da guerra "o mais rapidamente possível" e Emmanuel Macron acredita que o aumento da pressão sobre a indústria de petróleo russa "vai mudar o jogo".

"A Rússia deve pôr fim a esta guerra que desencadeou", declarou o presidente ucraniano, saudando uma discussão "muito importante" com Emmanuel Macron e os representantes norte-americanos. "Temos de garantir que a Rússia não sinta que está a ser recompensada pela guerra", apelou Zelensky numa conferência de imprensa conjunta com Emmanuel Macron.

Estas declarações foram feitas após uma reunião entre os dois chefes de Estado, num momento em que os esforços para resolver a guerra com a Rússia estão em andamento, mais de três anos e meio após o início da invasão.

"Conversei várias horas com Emmanuel [Macron]. Conseguimos avaliar muitos detalhes. Foi dada maior atenção às discussões sobre o fim da guerra e às garantias de segurança", escreveu Zelensky no Telegram, depois do encontro com o presidente francês, no Palácio do Eliseu. "A paz deve tornar-se verdadeiramente fiável. A guerra deve terminar o mais rapidamente possível. Muito depende agora da ação de cada líder".

Por seu lado, Macron defendeu que um plano entre a Rússia e a Ucrânia para pôr fim às hostilidades só pode ser finalizado com o envolvimento de Kiev e das potências europeias. "Atualmente, não existe um plano finalizado sobre as questões territoriais. Só pode ser finalizado pelo presidente Zelensky", disse o chefe de Estado francês. "Sobre a questão dos ativos congelados, garantias de segurança, adesão à União Europeia e sanções europeias, ele só pode ser finalizado com os europeus à mesa", acrescentou.

"O nível de pressão sobre as empresas e a indústria de petróleo e gás na Rússia será, nas próximas semanas, o mais elevado desde o início da guerra, e penso que isto vai mudar o jogo", afirmou ainda Macron, apontando que "o nível de pressão sobre a economia russa irá claramente aumentar".

Zelensky referiu ainda não ser "justo" excluir os aliados europeus das negociações sobre a reconstrução da Ucrânia: "É difícil porque o dinheiro está na Europa, e acho que isso não é muito justo."

Exercer pressão "sobre o agressor"

"Tenho o receio de que toda a pressão venha a ser exercida sobre o lado mais fraco, uma vez que a rendição da Ucrânia é a maneira mais fácil de acabar com esta guerra", disse a alta representante da UE para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, Kaja Kallas, sobre a reunião entre Washington e o Kremlin, prevista para terça-feira.

"Se queremos impedir esta guerra de alastrar [a outros países e regiões], devemos exercer toda a pressão sobre o agressor, ou seja, a Rússia", advertiu. O objetivo é acabar com a guerra, impedindo que "recomece daqui a uns anos".

Também o chanceler alemão afirmou que Kiev e os aliados europeus devem estar envolvidos no acordo para acabar com a guerra. "Seguimos uma linha de ação clara: nenhuma decisão sobre a Ucrânia e a Europa sem os ucranianos e os europeus, nenhuma paz imposta nas costas da Ucrânia, nenhum enfraquecimento ou divisão da União Europeia e da NATO", ressalvou Friedrich Merz, após uma reunião por telefone com os chefes de Estado da Ucrânia, de França, do Reino Unido e da Polónia, entre outros.

Avanços russos

De acordo com uma análise da AFP divulgada hoje, o exército russo fez o maior avanço do ano na Ucrânia este mês. Só em novembro, a Rússia ocupou 701 quilómetros quadrados. No final do mês, Moscovo ocupava 19,3% do território ucraniano.

Na região de Donetsk, os russos lutam pela tomada da cidade de Pokrovsk, uma posição-chave cuja perda afetaria significativamente as defesas e a logística ucranianas.

Zelensky afirmou hoje que a Rússia intensificou recentemente os ataques com mísseis e drones para "quebrar" a vontade dos ucranianos de resistir a Moscovo. "Estamos a assistir a um aumento dos ataques com mísseis e drones. Trata-se de uma pressão grave, não só psicológica, mas também física sobre a nossa população, simplesmente para quebrar os ucranianos", afirmou.

O presidente russo, Vladimir Putin, declarou na semana passada que o seu país só cessaria as hostilidades se as forças de Kiev se retirassem dos territórios que quer anexar, sem os nomear, uma condição descartada pela presidência ucraniana.

O enviado dos EUA, Steve Witkoff, deverá chegar a Moscovo na terça-feira para discutir o plano de paz americano, considerado por muitos como excessivamente favorável à Rússia.

Alice Carqueja