A idade da reforma em 2026 subirá para 66,9 anos. Os cálculos são feitos a partir da esperança de vida - quanto mais vivermos, mais anos teremos de descontar. Não é isso que me perturba. Já dou como garantido que o Mundo que conhecíamos mudou de sítio, pouco ou nada a fazer. O que me impressiona é o envelhecer ser um problema, o lermos ou escutarmos analistas aparentemente frustrados com aquilo que eu acreditava ser uma maravilhosa notícia. Afinal, não é. Aliás, afinal vivermos mais anos é péssimo. Porque adoeceremos mais, porque entupiremos mais os hospitais, porque assim não há SNS que resista, porque as pessoas que trabalham não conseguirão descontar o suficiente para alimentar os que se reformaram, porque haverá mais gente em casa do que nos escritórios, nas fábricas, nos campos, no turismo. São preocupações dramáticas, pungentes e filhas da puta. Antecipo que um dia, quando existirem mais velhos do que novos, quando as sociedades amadurecerem mais esta tendência para a desumanização, alguém nos proponha uma morte assistida ao chegarmos a uma determinada idade... os que não tiverem massa ou posição, bem entendidos. Vão convencer-nos de que é mesmo assim, que é a única maneira de os nossos filhos poderem ter um futuro, que temos de ter coragem, que a nossa morte será feliz e que seremos recompensados com a vida eterna. Estou a ser pessimista? Exagero, sim. Mas o Orwell também, quando escreveu "O triunfo dos porcos" ou o "1984", há quase cem anos.