Muito se tem falado de circularidade na indústria têxtil e da sua importância para a sustentabilidade do setor. Apesar de o conceito não ser novo (prova disso é que temos em Portugal empresas de reciclagem mecânica com mais de 50 anos de existência), a eficiência dos processos para garantir zero desperdícios e a reintrodução eficaz de resíduos e subprodutos na cadeia de valor têxtil ainda está longe do desejável.
Multiplicam-se as iniciativas que promovem esta circularidade industrial, mas persistem barreiras de ordem económica e de logística reversa. Um dos principais desafios prende-se com a falta de informação fidedigna sobre a origem, a composição e o percurso dos materiais na cadeia de valor. Esta lacuna fragiliza a circularidade da indústria têxtil, e remete para a importância do regulamento de conceção ecológica para produtos sustentáveis (ESPR), que entrou em vigor em 2024. Este regulamento introduz o conceito de Digital Product Passport (DPP, ou "passaporte digital do produto") integrado num pacote de medidas que, em termos gerais, pretende aumentar significativamente a circularidade, o desempenho energético e outros aspetos da sustentabilidade ambiental dos produtos colocados no mercado europeu.
Um dos conceitos fundamentais do passaporte digital do produto é o da rastreabilidade do artigo têxtil, sendo expectável que apresente a informação sobre a sua composição e todas as etapas do processo produtivo. Esta informação é crucial para a transparência e para a circularidade da indústria têxtil. De facto, sem essa informação, as opções de fim de vida não são claras. Como transformar e valorizar resíduos em recursos, se nem sabemos exatamente o que os compõe, quer em termos de fibras têxteis quer em termos de potenciais químicos perigosos usados no processo e que podem estar presentes no artigo têxtil?
O projeto be@t - bioeconomy-at-textiles.com, financiado pela componente 12 do PRR, está a desenvolver soluções para o passaporte digital e para a rastreabilidade dos materiais através de marcadores nas fibras têxteis, tanto em fibras de celulose regenerada como em fibras recicladas. Estes sistemas de marcação, combinados com os sistemas de rastreabilidade digital usados no be@t (códigos QR e tecnologias de blockchain), permitem acompanhar cada etapa produtiva, da fibra ao fio, do tecido à peça final, sendo o pré-requisito de uma economia circular funcional, e reforçam a transparência e a competitividade deste setor industrial.