Cerca de 60 objetos indígenas, guardados durante um século no Vaticano, foram devolvidos ao Canadá e expostos na terça-feira num museu canadiano, onde crescem os apelos à restituição de outros importantes artefactos culturais.
Embora a maioria das 62 peças sejam objetos pequenos, como joias ou pequenas ferramentas, a restituição inclui também um caiaque completo com remo, utilizado pelo povo Inuit do norte do Canadá.
De acordo com Natan Obed, presidente da Inuit Tapiriit Kanatami, organização que defende os direitos deste povo, este caiaque "não se destinava à exibição ou ao transporte", mas sim "era utilizado para a caça à baleia beluga".
Foi objeto de longas negociações antes do seu regresso através do Atlântico, noticiou a agência France-Presse (AFP).
"Isto é histórico", declarou a governadora-geral Mary Simon, representante do rei Carlos III no Canadá, em comunicado. "Estes artefactos foram separados das comunidades a que pertencem durante demasiado tempo", realçou ainda a primeira pessoa indígena a ocupar este cargo.
Esta agradeceu ao papa Leão XIV por ter cumprido a promessa feita pelo seu antecessor, Francisco, em 2022, durante uma viagem ao Canadá.
Nessa ocasião, o líder da Igreja Católica apresentou um pedido de desculpas histórico às comunidades indígenas pelos abusos cometidos contra crianças nas escolas católicas durante décadas, que descreveu como "genocídio".
Mary Simon espera agora que outros objetos possam ser repatriados.
Cody Groat, especialista em património cultural indígena da Western University, em Ontário, vê este repatriamento como "um ponto de partida".
O especialista explicou à AFP que as circunstâncias que envolveram a remoção dos objetos para Roma na década de 1920 permanecem obscuras. O Vaticano refere-se a isto como uma doação, mas, para Groat, o contexto de dominação missionária sobre os povos indígenas torna esta "doação" questionável.
Todos os objetos repatriados provêm da exposição missionária de 1925, organizada pelo Vaticano para divulgar as suas atividades.
Mas, como a presença da Igreja Católica no Canadá remonta ao século XVII, os historiadores acreditam que outros artefactos possam estar guardados em Roma, embora o seu número seja atualmente desconhecido.