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Tajiquistão denuncia assassinato por ódio étnico de criança na Rússia

Um aluno de 15 anos atacou mortalmente um rapaz de dez anos numa escola russa Foto: Pedro Correia / Arquivo

O Tajiquistão, país da Ásia Central aliado da Rússia, denunciou esta quarta-feira um "ataque motivado pelo ódio étnico" após o assassinato de uma criança tajique de dez anos numa escola perto de Moscovo por um adolescente.

Num gesto raro, o Ministério dos Negócios Estrangeiros tajique convocou o embaixador da Rússia em Duchambé para entregar uma nota a exigir às autoridades russas "um inquérito imediato, objetivo e imparcial".

O Governo do Tajiquistão quer que todos os responsáveis pelo crime respondam perante a justiça, segundo um comunicado citado pela agência de notícias France-Presse (AFP).

O ataque à facada ocorreu na terça-feira numa escola em Odintsovo, a poucos quilómetros a oeste de Moscovo.

O Ministério do Interior tajique afirmou temer que o homicídio incite "grupos nacionalistas radicais a cometer atos semelhantes" e exortou o homólogo russo a investigar.

Na terça-feira de manhã, um aluno de 15 anos agrediu um segurança da escola com uma faca, antes de atacar mortalmente um rapaz de dez anos, segundo o comité de inquérito russo.

Vídeos e fotografias publicados no Telegram, não autenticados pela AFP, mostram o adolescente a desembalar, nas casas de banho, caixas envolvidas em fita adesiva com fios elétricos semelhantes a engenhos explosivos artesanais.

O adolescente deambula depois pela escola, aponta uma faca a um grupo de alunos, pergunta-lhes a nacionalidade e, em seguida, persegue um deles antes de o esfaquear mortalmente.

O comité de inquérito russo anunciou, por agora, apenas ter detido e colocado o agressor em prisão preventiva.

Segundo meios de comunicação russos, incluindo o Komsomolskaya Pravda e o Kommersant, o suspeito era subscritor de canais neonazis e tinha enviado aos colegas de turma um manifesto racista alguns dias antes da agressão.

Centenas de milhares de tajiques trabalham na Rússia e muitos deles possuem a nacionalidade russa.

Segundo o Banco Mundial, as remessas de fundos para os familiares que permanecem no Tajiquistão representam quase metade do Produto Interno Bruto (PIB) da república montanhosa da Ásia Central.

A situação dos migrantes da Ásia Central na Rússia complicou-se, com recrutamentos por vezes forçados para o exército russo para combater na Ucrânia, mas também devido ao endurecimento da política migratória.

Após a detenção de tajiques na sequência do atentado numa sala de concertos na periferia de Moscovo, que causou 149 mortos em março de 2024, o presidente Vladimir Putin assinou leis que facilitam a localização e expulsão de migrantes.

A República do Tajiquistão, que se tornou independente da União Soviética em 1991, é um país com cerca de 20 milhões de habitantes, encravado em montanhas.

Tem fronteiras com o Afeganistão, o Uzbequistão, o Turquemenistão, a China e o Paquistão, a que está ligado através do chamado corredor de Wakhan.

JN/Agências