O meu filho está na idade de duvidar da existência do Pai Natal. Começou por achar que a maioria dos pais natais com que se ia cruzando eram impostores, identificando perspicazmente a fraca qualidade do disfarce, da barba postiça, dos sapatos pouco condizentes e, agora, estando numa escola com crianças mais velhas, já percebeu que a existência do Pai Natal não só é polémica, como faz dos céticos os mais "cool" entre os colegas.
Ainda assim, veio perguntar se o Pai Natal existe mesmo, acreditando que a minha resposta seria sincera. Como tal, tive de dizer a verdade, explicando que a personagem Pai Natal nasce do mito do São Nicolau, que teria sido um homem bondoso, que presenteava secretamente os mais desfavorecidos e que, pelo seu bom coração, se tinha tornado uma lenda. (O meu filho interessa-se muito por lendas). Vai daí, expliquei que o São Nicolau viveu há muitos e muitos anos, pelo que, a sua existência hoje, depende da crença e da imaginação dos seus admiradores.
Continuei perguntando se ele gosta do mistério e ele respondeu que sim, confirmando que gosta de acreditar na fada dos dentes e na existência de duendes. Ora, a condição essencial para que o Pai Natal exista, retorqui, é querermos acreditar que a vida tem mistérios, que fogem às explicações mais prosaicas, sendo muito mais divertido acreditar que a magia é possível. Ele anuiu e decidiu continuar a acreditar, mas não querendo apoucar o poder da minha argumentação, tenho de confessar que a sua crença está muito mais ancorada numa memória do Natal passado, contra todo o ceticismo espontâneo ou induzido, do que em qualquer coisa que eu pudesse dizer ou afiançar.
Estávamos a caminho da consoada, já no finalzinho da tarde de 24 de dezembro de 2024, quando à saída, em pleno passeio, vimos uma corrente de luzinhas no manto negro do céu. Era uma dúzia de pontos brilhantes ligados por um fio igualmente luminoso, em movimento por cima das nossas cabeças. Apontando para o céu o puto disse com os olhos arregalados de espanto e encantamento: "olha as renas e os trenós do Pai Natal!" e nós, com ele, igualmente espantados confirmámos: era de facto impressionante, estávamos a ver o Pai Natal a chegar, bem a tempo da noite de Natal!
Rapidamente, alguém sussurrou que o OVNI seria certamente o Starlink e bastou uma pesquisa Google para confirmar o palpite em surdina, para não estragar o momento do petiz. E foi por aquele incrível timing, que fez os olhos do meu filho brilharem mais do que as estrelas na noite de Natal, que fui arrebatada por um microssegundo de gratidão a Elon Musk e ao seu milagre tecnológico. O mesmo que continua a ser o milagre de Natal do meu filho e acrescenta, até hoje, um ponto a mais para o lado do mistério.