É Natal - tempo da família, tradições e amigos. Estou a cumpri-lo numa carta muito nossa, aberta ao futuro que quero sondar, escrevendo.
Andamos juntos há muito tempo - sorte a minha! Nestes dias de poucas horas, consumidas na vertigem da vontade e do dever, celebramos realizações, partilhamos angústias e assumimos desafios.
Fomos fazendo muitas coisas juntos, sempre pressionados pelas urgentes, mas encontrando espaço para as importantes. Todavia, falta muitas vezes o tempo para falar com a calma que a reflexão precisa, fruir da tua sabedoria antiga e sempre nova, interpretar a tua resiliência e perceber-te o futuro (que é outro dos teus nomes).
Admiro a tua história, longa em cruzamentos de povos e assente na Galécia Magna. Criaste um país - o nosso Portugal - cujas epopeias, quimeras e emigração levaram e ainda levam muitos filhos teus. Sabes preservar a memória em pedras de monumentos e sítios ou em práticas humanas seculares, que a humanidade tem classificado como seus. Defendes a tua pronúncia como se de uma questão de carácter se tratasse (e trata). És livre e autodeterminado.
Sinto as tuas urbes e paisagens, o metabolismo e autenticidade de vilas e cidades, a beleza do ar dos prados quando levanta neblina, a força telúrica de penhascos serranos, o serpenteado de socalcos vinhateiros, a amplitude dos planaltos nordestinos e o silêncio das arribas no Douro profundo. Uma biodiversidade preservada em campos, matas, florestas e áreas protegidas, altares de uma simbiose secular entre natureza e humanos que também gera sabores únicos, que muito apreciamos.
Agora, vibrar, vibrar mesmo, é com as tuas gentes. As que o tempo consagrou, incluindo as femininas, como Deu-la-deu, Maria da Fonte ou Agustina; as que Camilo muito bem estereotipou; e os nortenhos de hoje, que continuam esta construção, incluindo os que chegam (emigrantes ou turistas) e integras naturalmente. Pessoas - pensadores, criadores, empreendedores, cuidadores. Pessoas que com conhecimento, saberes, inovação, trabalho e perseverança asseguram presente e fazem futuro, numa modernidade de que queremos ser parte. Não percas essa determinação corajosa, que não espera autorização de ninguém, que cria prosperidade e afirmação no Mundo, com vinhos ou produtos industriais de excelência, empresas com liderança estratégica, tecnologia, ciência e criatividade que, aqui, têm chão para frutificar. Sabes combinar o erudito, o vanguardista e o popular, da Casa da Música ao coreto da Agonia, do Gnration em Braga à coreografia dos Caretos de Podence.
Gosto do Mundo (e estive em muito lado), mas gosto de ser daqui, nas memórias que guardo e no futuro em que acredito. Desejo-te um Bom Natal, na certeza de continuarmos esta irresistível caminhada.