Um documento entre os arquivos do caso Jeffrey Epstein recentemente divulgado revela os truques psicológicos que a ex-namorada e cúmplice, Ghislaine Maxwell, usou para atrair adolescentes vulneráveis.
Segundo os documentos, um agente relatou, em 2020, a um grande júri o testemunho de uma mulher que disse ter sido abusada por Epstein quando era menor e que afirmou que as primeiras visitas à casa de Epstein, durante as quais não sofreu abusos, foram "estranhas". Porém, "Maxwell normalizou a situação para ela". "Era como uma irmã mais velha fixe e fazia comentários do tipo: "É isto que os adultos fazem"". A mulher disse ainda que viu Maxwell em topless perto da piscina de Epstein. "Ela ficou um pouco surpreendida, mas Maxwell agiu normalmente", relatou o polícia.
Quando os abusos sexuais de Epstein começaram, a mulher contou que, por vezes, outras mulheres estavam presentes, incluindo Maxwell. "Normalmente começavam com uma das raparigas a massajar o Epstein, geralmente a massajar-lhe os pés", disse o agente sobre o relato da mulher. "Maxwell provocava as outras raparigas. Apalpava os seios das raparigas e instruía-as sobre o que fazer".
"Ela tentava não olhar para Maxwell porque transmitia uma vibração de irmã, por isso era estranho para ela", continuou o polícia. "Ela tentava tornar-se invisível no ambiente para que a ignorassem o mais possível."
A acusadora descreveu a atitude de Maxwell como "muito casual, agia como se fosse normal". "Ela transmitia essa impressão", recordou a agente, citando a vítima. Questionada se isso a fazia sentir mais confortável com o que estava a acontecer, respondeu que sim.
A frequência da atividade sexual com Epstein aumentou com o tempo. Durante o depoimento desta mulher à polícia, foi questionada sobre os seus sentimentos em relação a Epstein e Maxwell na altura. "Ela expressou que sentia que eles a amavam", disse o polícia. "Ela sentia que eles eram a sua família; que a apoiavam e que precisava de lhe estar grata".
Apesar de a mulher não ser identificada na transcrição do depoimento ao júri, o relato do abuso coincide com o depoimento de "Jane" durante o julgamento de Maxwell. Jane contou aos jurados que Epstein começou a abusá-la aos 14 anos e que Maxwell estava por vezes presente. No julgamento, Jane disse que Maxwell lhe tocava nos seios. "Havia mãos por todo o lado", relatou Jane sobre um encontro com Epstein e Maxwell. Descreveu também encontros sexuais em grupo com ambos e outros.
Manter o ambiente leve
Outro depoimento do agente, referentes a outra vítima, destacam o intrincado processo de aliciamento. "Maxwell disse-lhe para fazer uma massagem aos pés de Epstein e depois mostrou-a e instruiu-a sobre como o fazer", recordou. "Ela estava um pouco desconfortável, mas Maxwell estava a brincar, por isso limitou-se a seguir as instruções".
Os depoimentos perante o grande júri também chamaram a atenção para a forma como Maxwell tentou manter o ambiente leve durante uma ida ao cinema. "Ela disse que, no exterior do cinema, Maxwell estava a brincar e baixou um pouco as calças de Epstein", contou o agente. "E depois, quando entraram no cinema, Epstein, enquanto estavam sentados, tocou-lhe na perna, esfregou-lhe o braço e segurou-lhe a mão. E que, desta vez, não estava a tentar escondê-lo de Maxwell".
Outra vítima relatou que, durante o período inicial em que frequentava a casa de Epstein, conversava com Maxwell. "Ela conversava com Maxwell sobre a sua vida familiar", disse o agente. "Falava sobre os abusos que sofreu quando era mais nova. Contou que a mãe era toxicodependente e que tinha sido abusada sexualmente várias vezes na infância", afirmou.
Maxwell perguntou à menina se era sexualmente ativa e se já tinha usado brinquedos sexuais. A vítima recebeu também embalagens com cuecas da Victoria"s Secret, cujo remetente continha os nomes de Maxwell e Epstein.