Opinião

José Raposo

O bem é o mistério, não o mal. Não me venham com tretas do fascínio dos monstros, dos que matam por prazer, sadismo ou por outra qualquer maluqueira. Na verdade, não quero saber se os que destilam ódio como se fossem whisky barato foram abandonados pelas mães ou menosprezados pelo Mundo. O mal é baço, é a completa ausência de luz na masmorra em que se transformaram. Agora, o bem... é outra coisa. Conheço anjos com trombas parecidas às nossas para que ninguém desconfie que não são humanos. Neste 26 de dezembro, ainda com as casas e as nossas rotinas por embrulhar, vem-me à cabeça José Raposo. Enorme ator, mas ainda maior no ofício de viver, um tipo que anda por aqui como se a sua missão fossem os outros. Na Casa do Artista é o guardião dos desamparados, dos que caíram, dos que um dia foram aplaudidos e amados pelo público que deles se esqueceu. Como o Joel Branco, uma estrela quando eu era miúdo. Li que andava aos caídos, desesperado, abandonado, doente e irreconhecível. Raposo foi à sua procura e resgatou-o menos de 24 horas após a publicação da notícia. Tem agora o seu quartinho na Casa do Artista, está protegido. O bem é o mistério, não o mal. Há anjos, como o José. E como outros e outras. São especiais, um mistério, uma bênção. O José, que ampara os que deixaram de ser amparados, bem pode aspirar à felicidade ou ao Céu. Ainda ontem, dia de Natal, abriu a porta de sua casa para que nenhum amigo comesse rabanadas sozinho. Bolas, José. Obrigado por seres, por existires, por nos lembrares que há sempre formas de sermos maiores.

Luís Osório