Título no JN: «Recessão vai destruir mais 44 mil empregos». Mais 44 mil... Para que chegássemos a esta terrível situação, é agora moda invocar a crise - e eu permito-me acrescentar, correndo embora o risco de me chamarem troglodita, coisas como a evolução da técnica e a quase paranóia da «qualificação».
Alguém duvida de que a evolução tecnológica veio dispensar mão-de-obra? Permitam-me citar apenas o «meu» caso, pois um jornalista e um computador acabaram com meia-dúzia de profissões.
Quanto à qualificação, cada governo incita os jovens a colocar-nos, em matéria de preparação, ao nível da Europa evoluída. E ei-los a fazer bacharelatos, licenciaturas, mestrados, doutoramentos. No final, ficámos cheios de gente com currículo mas sem esperança de emprego. O bastonário da Ordem dos Advogados, em artigo no JN, acaba de apontar o excesso de universidades e de cursos sem qualquer saída, bem como o facilitismo na obtenção de títulos académicos, como fortes contributos para a superabundância de «qualificados» que o país não sabe onde meter. Por exemplo, parece haver 45 mil enfermeiros sem trabalho. Mas onde é que em Portugal há lugar para mais 45 mil enfermeiros?! Do curso de Comunicação Social saem fornadas de licenciados, directamente para o desemprego. Quanto a professores, estamos falados...
Mas, afinal, o que pretendo eu com isto? Destruir os computadores? Encerrar as universidades? Não, pretendo apenas que os candidatos a governantes nos digam se têm na manga alguma ideia capaz de garantir o futuro de quem se «qualificou», como lhe foi pedido, para depois acabar com os olhos abertos para a dura realidade de que este país não tem espaço para tanto «qualificado».