O mais recente filme de João Nuno Pinto, "América", estreia, quinta-feira, nas salas nacionais, retratando "um país de encalhados" e contando com a última prestação de Raul Solnado no cinema.
"América" assenta na exploração dos desgraçados pelos desgraçados. "Está toda a gente encalhada e desesperada à procura de uma saída, mas todos dependem uns dos outros", resumiu o realizador à Lusa, por alturas do festival de cinema IndieLisboa, onde o filme teve a primeira exibição.
Uma co-produção entre Portugal, Espanha, Brasil e Rússia, "América" é "um título irónico", porque "neste caso é a América dos pobres e dos desfavorecidos", explicou.
Filmado na Cova do Vapor, na Trafaria, o filme conta, entre os actores, com Fernando Luís, Chulpan Khamatova, Dinarte Branco, Cassiano Carneiro e Maria Barranco.
É também o último trabalho de Raul Solnado, que morreu em Agosto de 2009, antes de ver o filme pronto. "Trabalhar com o Raul foi uma experiência maravilhosa. Era um senhor, foi uma lição de talento, profissionalismo, humildade", descreve João Nuno Pinto, que dedica o filme a Solnado.
Desde o início que João Nuno Pinto achou que Solnado era o indicado para fazer de Melo, um falsificador à antiga, que quer fazer as coisas bem feitas e que representa "um Portugal que está a morrer" (a personagem é, aliás, assassinada por um toxicodependente no filme).
Mas foi preciso convencer Solnado a aceitar o papel - "já não queria fazer cinema, não tinha paciência, não tinha vontade", mas acabou por aceitar. "Dentro daquele caos, daqueles feios, porcos e maus, o Melo demonstra uma grande dignidade", realça o realizador.
A Cova do Vapor representa o "espírito genuinamente português da criatividade popular e do desenrasca", refere o realizador, que já está a trabalhar numa nova longa-metragem, mas sobre a qual ainda não quer ainda adiantar detalhes.