Brasil

Fazendas do tempo do Império abrem portas ao turismo cultural

Após décadas de declínio, as fazendas históricas que viveram o auge do ciclo do café no século XIX, no estado do Rio de Janeiro, resistiram ao tempo e hoje destacam-se como grandes pólos de atracção para o turismo cultural.

A região ficou conhecida como o Vale do Café, no período do Brasil Império. E agora os atuais proprietários resolveram investir no turismo histórico e no romantismo para seduzir visitantes e reproduzir o clima imperial de 1800.

Numa área bucólica de montanhas verdes, existem cerca de 220 fazendas remanescentes do período do café espalhadas por 15 municípios do Vale do Paraíba do Sul Fluminense, localizado a 120 quilómetros da cidade do Rio de Janeiro, junto à fronteira com o estado de Minas Gerais.

Destas centenas de fazendas existentes, apenas 30 estão abertas a visitas e somente algumas se tornaram hotéis que recebem os apaixonados pelo turismo histórico.

"Depois de o ciclo do café ter passado, as fazendas passaram a criar gado e o produto passou a ser o leite. O turismo ficou adormecido tendo reflorescido nos últimos 20 anos como o turismo histórico, por iniciativa de alguns fazendeiros", disse à Lusa Paulo Roberto dos Santos, proprietário há 14 anos da Fazenda Florença, de 1852.

A Fazenda Florença pertencia à família Teixeira Leite, de origem portuguesa, actualmente oferece 35 quartos e já foi palco de gravações para telenovelas famosas da Rede Globo, como "Escrava Isaura", em 1976, ou "Sinhá Moça".

As fazendas foram preservadas na sua arquitectura e no mobiliário, disse Paulo Roberto ao ressaltar o rico acervo que guardam muitas das casas hoje transformadas em museus.

Em óptimo estado de conservação, o casarão de Florença é um exemplo de casa-museu que abriga móveis de madeira, armários, prataria, louças de cristal, luminárias e objectos decorativos do século XIX.

Houve uma coincidência entre o período áureo do café no Brasil e a instalação do império e o Brasil, destacou o proprietário da Florença, "é um caso ímpar na história mundial onde a colónia se tornou a sede do império".

"As fazendas viveram esse apogeu, tudo o que aconteceu na Corte em relação às grandes transformações culturais, as fazendas vivenciaram", contou.

Os chamados "palácios rurais" das fazendas históricas foram construídos pelos nobres da região e à medida que as famílias cafeeiras ganhavam dinheiro, importavam o luxo da Europa.

Na década de 1860, o Vale chegou a produzir 75 por cento do café consumido no mundo e colocou o Brasil na liderança mundial da produção e exportação de café.

Os recursos do café possibilitaram a construção de ferrovias, iluminação pública e investimentos em infraestruturas.

Para fortalecer o turismo histórico na região, todos os anos ocorre o Festival Vale do Café, altura em que dezenas de fazendas abrem as suas portas para a realização de saraus e concertos de música instrumental.

A Fazenda Florença integra a programação do festival, que este ano ocorre entre 22 e 31 de Julho, e prepara um sarau histórico que vai contar a vida do barão de Guaraciaba, o único barão negro do império.

Após a apresentação, será oferecida aos visitantes uma degustação de gastronomia francesa, portuguesa e brasileira com pratos típicos. "A gastronomia da senzala e dos salões nobres das fazendas", concluiu Paulo Roberto.

Redação