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Brasil concentra um terço de infectados com SIDA na América Latina

Apesar de concentrar um terço da população de seropositivos da América Latina, o Brasil apresenta uma das mais baixas taxas de incidência de SIDA na região, mas o diagnóstico tardio é responsável por grande parte das mortes.

"Estimamos que existem 630 mil infectados no Brasil, e destes entre 250 e 300 mil nem sabem que estão", disse à Lusa o epidemiologista Dirceu Greco, director do Departamento de DST, SIDA e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, à margem do Diálogo Regional para a América Latina que reuniu em São Paulo 120 participantes de 18 países para discutir esforços no combate ao VIH.

Numericamente, o Brasil tem mais seropositivos que outros países latino-americanos, contudo a incidência é de 0,6 por 100 mil habitantes, sendo 0,4 para mulheres e 0,8 para homens.

O diagnóstico precoce ainda é um desafio, afirmou Greco. Apesar de a SIDA estar espalhada por toda a população, o vírus está mais concentrado em situações de vulnerabilidade social ligada à pobreza e ao baixo grau de instrução.

O Brasil distribui por ano 500 milhões de preservativos, mas as relações sexuais ainda são desprotegidas. "Aqui, quem manda na relação sexual é o homem" e a mulher fica refém da decisão do homem, argumentou Greco.

O especialista destacou ainda que no segmento de risco se enquadra a população de homossexuais que tem 15 vezes mais probabilidades de contrair a doença.

O director do Departamento de DST e SIDA apontou a falta de orientação de médicos e pedido de exames como um dos problemas para o diagnóstico tardio.

"O Brasil, que é o país com o maior sistema público de saúde, ainda tem o acesso primário muito complicado à rede pública. É preciso melhorar a qualidade aos acessos iniciais", disse.

Por ano, ocorrem cerca de 11 mil mortes devido à doença, mas a grande maioria dos óbitos deve-se ao acesso tardio ao diagnóstico e tratamento.

"Com o diagnóstico precoce e a adesão ao tratamento, o tempo de vida de um seropositivo aumenta muito. Em 1995, era de 20 meses, agora fala-se em 58 meses, mas se se tratar correctamente, o VIH não vai ser mais a causa da morte de um paciente", afirmou.

Desde 1996, o Brasil adoptou a política de distribuição gratuita dos medicamentos através do Sistema Único de Saúde (SUS) e investe por ano cerca de 400 milhões de dólares em compra e distribuição dos medicamentos.

Actualmente, a rede pública trata de 200 mil pacientes com a entrega de 20 remedios antirretrovirais, sendo que 10 são fabricados pelo Brasil.

A coordenadora de VIH do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) na América Latina e Caraíbas, Maria Tallarico, concorda que, na América Latina, o início do tratamento e o acesso universal aos fármacos devem ocorrer mais cedo.

A região ainda enfrenta picos de dificuldade de aquisição e distribuição dos medicamentos.

Em Março deste ano, o Brasil foi afectado pela ruptura do medicamento Atazanavir, da Bristol, usado por mais de 30 mil pacientes. Durante 18 dias, foi interrompido o abastecimento e a recomendação das autoridades foi a troca dos medicamentos.

A falta do remédio foi provocada por um problema de logística, admitiu à Lusa Dirceu Greco do Ministério da Saúde.

"A distribuição é muito complexa e não pode ser feito um stock de mais de um ano e meio", afirmou, destacando que um grupo de trabalho já foi criado para monitorizar os pontos e possíveis falhas na distribuição.

Redação