Brasil

Favelas do Rio fazem exercício de simulação para evacuar áreas de risco

O Rio de Janeiro realizou, domingo, o primeiro exercício de evacuação de áreas de risco em caso de chuvas fortes, com o objectivo de tentar evitar tragédias como as registadas em Abril do ano passado.

O exercício foi realizado simultaneamente em 20 comunidades da cidade e contou com o auxílio de cerca de 2.100 pessoas, entre técnicos da Defesa Civil e voluntários da Cruz Vermelha do Brasil, além de lideranças das próprias comunidades.

Inicialmente, os agentes receberam uma mensagem via telemóvel a informar sobre a previsão do aumento da chuva para as próximas horas e a necessidade de informar à população. Cerca de meia hora depois o alarme foi accionado.

O prefeito do Rio, Eduardo Paes, acompanhou o exercício na comunidade do morro da Formiga, favela já pacificada na Tijuca, zona norte do Rio. Ao apresentar o projecto à população, o governante fez um apelo aos moradores para que acreditem no aviso.

"É importante que a população entenda que quando a sirene toca não é porque o prefeito olhou para o céu e achou que vai chover. Existe todo um sistema por trás disso com radares, meteorologistas e um centro de operações que funciona 24 horas por dia", destacou.

A intenção do sistema -- que funciona nos mesmos moldes dos adoptados por países que sofrem com abalos sísmicos ou excesso de neve -- é tentar prevenir que se repita a tragédia registada em Abril do ano passado, quando várias pessoas morreram em decorrência de deslizamentos de terras após fortes chuvas na região.

"Logo após a tragédia de Abril do ano passado, a Prefeitura encomendou um estudo geológico das áreas de maior risco. Na ocasião, foram identificadas 18 mil residências e hoje o exercício atinge cerca de oito mil delas. A nossa intenção é que até ao verão [temporada de chuva no Brasil] o sistema já esteja instalado em 60 comunidades", explicou à Lusa o porta-voz da Defesa Civil.

Durante a simulação, cada agente ficou responsável por dez famílias, que foram instruídas a deixar as suas casas em direcção aos pontos de apoio, levando apenas documentos e remédios necessários.

"É importante buscar soluções dentro da própria comunidade. Todos esses locais [que funcionam como pontos de apoio] são prédios com estruturas sólidas, que não correm risco de desabamento. Esta área onde estamos, embora esteja dentro da favela e no alto do morro, não consta como área de risco", observou o subsecretário da Defesa Civil do Rio.

Feliz por se ter conseguido salvar de um deslizamento que atingiu a sua casa em abril deste ano, Alan Pereira, de 25 anos, compôs um 'rap', que cantou hoje para motivar as pessoas a darem importância ao alarme.

"Eu fiz parte da equipa dos orgulhosos, ouvi a sirene, mas não quis sair de casa, achei que não ia acontecer comigo. Algumas horas depois, tive que sair correndo porque a minha casa começou a desabar", contou à Lusa o jovem que conseguiu retirar a sua família por sorte, depois de ter ignorado o sistema de alarme, que já estava em funcionamento na altura.

"Quando a chuva vem / É tempo de viver, mais além/ Atenção aos moradores: /Se a sirene tocar /Peguem suas famílias, não vão se arriscar!/ Basta sabedoria e um pouco de oração /Que Deus te dá a melhor direcção", cantou Alan na abertura dos exercícios.

Redação