Representantes junto da Organização Mundial do Comércio (OMC) do Brasil, China, Índia, Argentina, Nigéria e África do Sul manifestaram-se discordar uma possível nova ronda de negociações que excluísse a agricultura.
"Aceitar uma nova ronda sem agricultura ia condenar uma grande parte da população mundial à pobreza. A agricultura não pode ser tratada como uma mera inconveniência para o mundo rico", afirmam os países, em carta enviada à publicação inglesa The Economist e divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil.
O texto lembra ainda que os produtos agrícolas representam mais de 60% das exportações de alguns países em desenvolvimento e são, de acordo com o Banco Mundial, a principal fonte de rendimento e emprego para 70% do mundo rural mais pobre.
A carta, assinada pelos representantes junto da OMC do Brasil, Argentina, China, Índia, Nigéria e África do Sul, foi escrita em resposta a um editorial da revista britânica ("Goodbye Doha, hello Bali"), publicado a 08 de setembro, no qual se defendia que as negociações para a liberalização do comércio mundial não podem ficar reféns da agricultura, tema que interessa principalmente aos países mais pobres e em desenvolvimento.
"Vocês [o editorial] sugerem que os países mais pobres devem abandonar a agenda porque economias mais ricas não estão dispostas a fazer as mesmas difíceis decisões políticas que eles pedem ao mundo em desenvolvimento", critica o texto.
A Ronda de Doha, que pretendia negociar a abertura dos mercados agrícolas e industriais, começou em novembro de 2001, com previsão de ser concluída em 2006. Os subsídios agrícolas foram o grande impasse que impossibilitou um acordo.
Na sexta-feira, o ministro das Relações Exteriores brasileiro, António Patriota, considerou que a pressão dos Estados Unidos para que as negociações sejam retomadas apenas com bens industriais e serviços não interessam ao Brasil e é um dos motivos que leva o país a reforçar o interesse num possível acordo entre o Mercosul e a União Europeia.
O Mercado Comum do Sul (Mercosul) integra a Argentina, Brasil, Uruguai e Venezuela. O Paraguai foi temporariamente suspenso, na sequência do processo de destituição do presidente Fernando Lugo.