O assassinato de Carlos Castro

Carlos Castro queria terminar relação com Seabra, diz testemunha

Ricardo Durães/Global Imagens

Vanda Pires, uma das testemunhas chave no julgamento de Renato Seabra pelo homicídio do colunista Carlos Castro, sustentou, esta no Tribunal de Nova Iorque, que a vítima tinha decidido separar-se do jovem antes do crime.

Primeira testemunha a ser ouvida em tribunal, Vanda Pires acompanhou Carlos Castro, seu amigo, e Seabra, em vários passeios ao longo da estada de ambos em Nova Iorque, desde 29 de dezembro de 2009, que viria a culminar no homicídio de 07 de janeiro de 2010, no Intercontinental Hotel, em Times Square.

Durante esses passeios, incluindo a casinos, e refeições, ambos estavam "felizes", relatou a testemunha da acusação, e o sexagenário Castro ia oferecendo presentes e mesmo dinheiro ao jovem aspirante a modelo.

A acusação sustenta que foi "raiva, desilusão e frustração" a levar Renato Seabra a matar o colunista social, diretamente ligada ao fim da relação, enquanto a Defesa argumenta que foi a doença mental a levar ao crime.

Pires respondeu negativamente nas várias vezes em que a procuradora Maxine Rosenthal perguntou se, em algum momento, Seabra tinha dito ter saudades de casa, se parecia confuso, perturbado, inquieto ou mesmo se tinha falado em "Deus, no demónio, na homossexualidade ou nos males do mundo".

A estada culminou numa violenta discussão, na noite de 06 de janeiro, no quarto de hotel, depois de um jantar "tenso", em que Vanda Pires participou, juntamente com o namorado.

A discussão durante a madrugada foi relatada ao telefone a Vanda Pires por Castro, que disse ter sido alvo de "insultos e impropérios" de Seabra, e que iria antecipar o regresso a Lisboa para o domingo seguinte.

Pires disse ter perguntado depois a Castro porque não mandava Seabra de volta para Lisboa, uma vez que este o "tratava como lixo", ao que a vítima terá respondido que o jovem teria pedido para ficar.

"Quando chegarmos lá [a Portugal], seguimos caminhos separados", terão sido então as palavras de Castro, segundo Vanda Pires.

A sessão matinal do julgamento foi interrompida antes de a acusação concluir o interrogatório da testemunha chave, que será também questionada pela Defesa de Renato Seabra.

O advogado David Touger sustenta que não há prova de que Seabra tenha sido informado do fim da relação, e como tal esse não pode ser considerado o móbil do crime.

O jovem ouviu as declarações em tribunal, atento e impassível, como habitualmente.

Na sala de audiências estiveram também a mãe de Seabra e uma irmã e uma prima de Carlos Castro.

Na sessão anterior, foram ouvidas as declarações de abertura das duas partes, tendo Rosenthal insistido que o crime de Seabra "resultou de raiva, de cólera, de frustração e de desilusão, resultado direto do fim da relação com Castro".

"Apesar de quaisquer problemas mentais ou emocionais do réu", este "agiu deliberada e intencionalmente, sabia que estava a bater, pisar e mutilar Castro, e que era errado", defendeu.

A defesa escuda-se nos relatórios psiquiátricos que apontam problemas mentais a Seabra, atribuíndo-lhe, na altura do crime, uma situação de "pensamento delirante, num episódio maníaco e desordem bipolar, com caraterísticas psicóticas graves".

"Foi levado por um pensamento psicótico a acreditar que era mensageiro especial de Deus para fazer do mundo um lugar melhor. Isso vai ao encontro da definição legal de insanidade", sustentou o advogado de defesa Rubin Sinins, na anterior sessão.

Redação