Política

Oficiais das Forças Armadas repudiam reforma no setor por ser "irreal"

A Associação de Oficiais das Forças Armadas considerou, este sábado, que as propostas de reforma do setor não têm em conta a realidade dos três ramos militares, que "já estão aquém do limite possível para o seu desejável funcionamento".

"Aspropostas merecem o nosso completo repúdio, além do mais, pelainoportunidade em que se pretende pô-las em prática", afirmou,este sábado, à Lusa o presidente da AOFA, Manuel Pereira Cracel,reagindo ao teor do documento de trabalho, que sugere uma reduçãode 4.000 efetivos até final de 2015 e prevê medidas deracionalização.

Emdeclarações à Lusa, Pereira Cracel considerou que o documento "éum bom exemplo de que os fins justificam todos os meios",considerando que "as propostas feitas não têm em conta, detodo, a realidade das Forças Armadas".

Odirigente da AOFA criticou, ainda, "a enorme inoportunidade"do documento, argumentando que "não faz sentido apresentar umdocumento, com propostas da dimensão das que aí constam, sabendoque o Conceito Estratégico de Defesa Nacional não está aindaaprovado".

ManuelPereira Cracel realçou que as Forças Armadas "já estão paraalém do limite da sua subsistência", porque, "ao longodos últimos anos, têm sido sujeitas a cortes sucessivos nasdiferentes vertentes".

"Élegítimo dizer que as Forças Armadas estão aquém do limitepossível para o seu desejável funcionamento", acrescentou.

Além deconsiderar irreal e inoportuno, o porta-voz dos Oficiais das ForçasArmadas apontou o dedo ao método: "Primeiro fazem-se umascontas numa folha de Excel e, a partir daí, vai-se fazer umareestruturação. São apenas expedientes para chegar ao númeropreviamente determinado".

PereiraCracel criticou ainda o ministro da Defesa Nacional, Aguiar Branco,por alegadamente se recusar a falar com as associações demilitares, que são remetidas ao silêncio, e por não ter "amínima noção do que é o espaço estratégico de interessenacional permanente".

O Governotem em discussão uma série de medidas de reforma das ForçasArmadas que incluem a redução dos atuais 38 mil efetivos para 30mil até 2020.

Umdocumento de trabalho, a que a agência Lusa teve acesso, sugere umaredução de 4.000 efetivos até final de 2015 e prevê medidas deracionalização, entre elas a centralização das compras doMinistério da Defesa e dos ramos e a criação de uma reservamilitar operacional.

Odispositivo territorial das Forças Armadas, segundo o documento,deverá também ser reduzido em 30 por cento e esta redução seriaconseguida através do congelamento de entradas e da criação de umareserva operacional.

A reservaoperacional prevê que os militares que a integrem, até aos 35 anos,recebam uma verba anual (equivalente a um salário mínimo ou outrovalor) e ficam sujeitos a um período de treino e à disciplinamilitar.

Outras dasmedidas de contenção preveem uma redução de 30% do pessoal civilaté 2015 e de 30% no parque de viaturas ligeiras.

Uma outrapossibilidade é os militares na reserva (com mais de 55 anos)fazerem trabalho nas unidades.

Éigualmente admitida a hipótese de o recrutamento ser feito atravésde um único órgão, dependente do Ministério, e a reorganizaçãodo Ensino Superior Militar apenas numa Academia (hoje existem três).

De acordocom o semanário Expresso, estas e outras medidas equivalerão a umcorte de cerca de 200 milhões de euros.

Contactadopela Lusa, o Ministério da Defesa Nacional afirmou que estas medidasconstam de um documento de trabalho.

Redação