Nada é mais esmagador, em períodos de depressões económicas, do que notícias sobre atos de desespero. A recessão de 1929, nos Estados Unidos, foi um exemplo disso.
Atualmente, a espiral recessiva da Grécia tem já um lastro de decisões-limite de muitos dos seus cidadãos que a história não deixará de os mencionar. Em Portugal temos suportado os últimos dois anos com estoicismo mas a sucessão de casos de mães com gestos de desespero dá que pensar. A subnutrição foi outra palavra que entrou no quotidiano - nuns casos já a subnutrição, noutros erros de escolha. Os leitores encontrarão hoje respostas honestas: não há fórmulas mágicas. Trata-se de problemas que nos deixam a todos com palavras bem medidas. Resta a questão: podedeve o Governo olhar para as saúdes mental e alimentar dos portugueses e ajudar neste período difícil? E como?
[perguntas]
[1] Os suicídios, em circunstâncias extremas, como os que têm sido noticiados, deveriam obrigar o Governo a gerar uma campanha urgente de saúde mental?
[2] Perda de poder de compra significa pior alimentação? Se sim, que custos vão surgir a médio prazo?
[3] Uma sugestão de livro para combate à depressão ou sobre melhor alimentação.
[respostas]
António Ferreira, presidente do Conselho de Administração do Hospital de S. João
[1] Não creio. Os resultados dependem de planeamento e tempo.
[2] Uma coisa é a subnutrição (ou fome, a que já estamos a assistir) associada à pobreza, cujos resultados serão análogos aos de outros países com pobreza endémica. Outra é o padrão alimentar errado, associado às chamadas doenças da civilização, mais ligado a políticas de saúde erradas e a desinformação do que à diminuição do poder de compra.
[3] Não conheço.
Isabel Vaz, presidente da Comissão Executiva da Espírito Santo Saúde
[1] A ser feito algo na prevenção do suicídio, é ao nível da formação específica de médicos de família e das IPSS, por exemplo, que lidam com as populações consideradas de risco (idosos e desempregados).
[2] Não necessariamente. Mais de um terço dos portugueses são obesos por se alimentarem mal e isso não aconteceu na crise. Os alimentos não aumentaram e ainda é possível fazer uma dieta saudável.
[3] Reler o Astérix.
Manuel Antunes, cirurgião toráxico e professor da Universidade de Coimbra
[1] As campanhas são benéficas, mas o problema aqui é muito mais profundo, é cultural, educacional e social. E não está necessariamente relacionado com a crise atual.
[2] Não tenho a certeza. A menos que se traduza em mudança de hábitos duradoura. Alimentação saudável até pode ser mais barata e "fome" de curta duração geralmente não deixa marcas físicas. Psicológicas, talvez...
[3] http://www.alimentacaosaudavel.org
Nuno Sousa, diretor do Curso de Medicina da Universidade do Minho
[1] Os suicídios são uma importante causa de morte (particularmente em algumas faixas etárias) que merecem sempre atenção por parte dos agentes prestadores de cuidados de saúde. Em situações de crise, esta necessidade tende a acentuar-se..
[2] Em princípio menor poder de compra traduz-se em pior alimentação, embora esta relação não seja linear (e exista também um relação com a compra de alimentos menos recomendados em países mais abastados). Se crónica, a má alimentação tem obviamente consequências para a saúde dos indivíduos ao nível de vários sistemas.
[3] Acabei de ler um livro excecional (mas brutal do ponto vista emocional): "A culpa é das estrelas". Acho que é muito relevante para colocar as coisas em perspetiva.
Maurício Barbosa, bastonário da Ordem dos Farmacêuticos e Prof. da Fac. Farm. Univ. Porto
[1] Não estou certo da eficácia dessa campanha. O ideal seria uma política de relançamento da esperança.
[2] Não necessariamente. Mas reconheço que acontece, com óbvio impacto na saúde. Neste caso, faria sentido uma campanha maciça de educação para a saúde e promoção de bons hábitos alimentares.
[3] Manual de Nutrição Infantil, de A Rito, AL Silva e J. Breda, e 50 Super Alimentos Portugueses, de VH Teixeira e P Carvalho.
Paulo Mendo, antigo ministro da Saúde
[1] Uma campanha nacional, estatal, obrigando os serviços normais do SNS a proclamarem "remédios" ao público para não se matarem, não me entra sequer na cabeça e espero que não entre na cabeça dos sábios!
[2] Não. Pode até significar melhores regras alimentares como foi exemplo o Reino Unido durante a guerra de 39-45. Saibamos nós aproveitar a crise.
[3] Há já dezenas de boas publicações sobre melhor alimentação.
Purificação Tavares, médica geneticista, CEO CGC Genetics
[1] É indispensável prestar muita atenção a estes sinais. As noticias recorrentemente negativas precisam ter um objetivo positivo claro. Se forem sempre exclusivamente negativas, têm efeito em todos nós.
[2] Substituir fast food por almoço levado de casa, pode ser uma boa alteração de hábitos.
[3] Livros que nos centrem em tudo o que podemos fazer com impacto, uns pelos outros, e que não se pode comprar.