O ministro Miguel Relvas anda com o sono trocado - e a culpa é da taxa de desemprego, sobretudo na componente que afeta os mais jovens. "São números preocupantes. O desemprego tira--nos o sono e é muito motivador para o trabalho que estamos todos os dias a desenvolver", disse o ministro quando, há dias, ficamos a saber que, oficialmente, estamos muito perto de um terrível número redondo: um milhão de desempregados.
O advérbio de modo "oficialmente" conta - e muito. Porque,na verdade, as contas que realmente interessam mostram que há emPortugal 1,2 milhões de pessoas sem trabalho. O que nos resta?"Temos de trabalhar, para que nos próximos anos possamosultrapassar esta situação, em particular o desemprego jovem",disse o ministro. E acrescentou, pesaroso: "Penaliza-nos saber quehá hoje uma geração de portugueses que estão muito bem preparadose que não têm emprego".
Não têm nem terão, nos próximos anos. Não sou eu que o digo:é o primeiro-ministro. Passos Coelho, naquele seu jeitoeu-nunca--minto-podem-sempre-crer-no--que-eu- digo, apressou-se aconfirmar que, antes de começar a melhorar, o desemprego ainda vaipiorar. Quer dizer: Relvas vai mesmo ter de recorrer aos ansiolíticospara dormir melhor, porque o país precisa dele desperto, atento e deolho vivo... Tudo o que país não deseja é que Miguel Relvas entrenuma espiral recessiva, para utilizar uma expressão maldita...
Sucede que, pelo andar da carruagem e apesar de todos os encómiosque o Governo jura granjear lá fora, entre os iluminados queverdadeiramente entendem a tragédia que não sai da nossa porta enos conduzirão, devagarinho, até ao sucesso, apesar disso não sevê como poderão dormir descansados os portugueses que, por estesdias, fazem contas e contas (sempre de subtrair) ao que lhes sobrapara aguentar o que resta de mês.
A queda da riqueza que produzimos está em níveis dignos de umpesadelo. A queda do consumo interno está em níveis dignos de umpesadelo. As exportações deixaram de ser uma almofada segura - esem boas almofadas não há sono retemperador. As despesas do Estadocom o desemprego (aumento de 25% no primeiro semestre de 2012) estãoem níveis dignos de um pesadelo. O tombo nas receitas fiscais é umdos pesadelos que mais incomodam o superministro das Finanças. E poraí fora, numa espiral que, se não é recessiva, deve andar lámuito, muito perto.
Não falta quem diga que o pesadelo não são os números - opesadelo é o Governo. Talvez haja algum exagero nesta consideração,porque, voltando ao ministro Relvas, não vejo como pode o Executivodesenhar políticas que tiram o sono aos seus mais importantesministros. Seria uma espécie de masoquismo de todo incompreensível.Ou não?