Saúde

Centro Materno Infantil: cortar novas fases?

O ministro da Saúde anunciou recentemente que discorda da lógica que levou à construção do novo Centro Materno Infantil do Norte (CMIN), o hospital que substituirá o extinto Hospital Maria Pia e a Maternidade Júlio Dinis, ambos no Porto. E, em consequência disso - não podendo evitar a sua conclusão - avisou que não avançará com a fase dois e três, ou seja, a que concluiria o projeto.

O CMIN ainda não está pronto mas seria esta a altura para assegurar o financiamento do parque de estacionamento e da renovação da Maternidade, vocacionando-a apenas para consultas externas.

Esta edição apresenta um bom leque de opiniões que ajudam a situar histórica e politicamente a questão. O mesmo se passa com o terrível momento da Grécia, cada vez mais estrangulada de medicamentos. Que fazer com esta 'dívida' humanitária? Que comentário?

[perguntas]

[1] Concorda que o Centro Materno Infantil do Norte fique apenas pela primeira fase, como quer o ministro da Saúde?

[2] Algumas multinacionais farmacêuticas recusam continuar a fornecer medicamentos essenciais aos serviços públicos gregos. [respostas]

Maurício Barbosa, Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos e Prof. da Fac. Farm. Univ. Porto

[1] Os grandes investimentos do Estado só deveriam ser feitos após aturada análise e fundamentação, o que nem sempre aconteceu. Não penso que seja o caso do CMIN, cuja necessidade era e é evidente. Dada a situação do país, temos todos de rever e relativizar juízos para salvaguardar o essencial. A solução passará por uma avaliação independente sobre o que poderá ser acessório.

[2] É preocupante e talvez exija ajuda internacional. Os Estados devem ser firmes e exigentes com os fornecedores, mas têm de ser cumpridores. Não é viável o caminho de dívidas gigantescas à indústria farmacêutica, como também aconteceu em Portugal. O orçamento da saúde deve ser adequado às necessidades da população e à capacidade das finanças públicas. E a despesa em saúde deveria ser vista como um investimento no bem-estar e na capacidade produtiva das pessoas.

António Ferreira,presidente do conselho de administração do Hospital de S.João

[1] Obviamente, não respondo.

[2] As farmacêuticas são bem sucedidas na obtenção de lucro, tendem a considerar os prescritores como os seus clientes e são especialistas na sustentação da imagem. Não é de estranhar que recusem fornecimentos quando não são pagas, porque isso põe em causa o primeiro dos seus objetivos. O que se estranha é que os cidadãos, a comunicação social, os doentes, as corporações, os Estados e os profissionais de saúde ainda não o tenham entendido.

Isabel Vaz, presidente da comissão executiva da Espírito Santo Saúde

[1] A Saúde tem sido gerida mais em função dos interesses e dos lóbis internos do SNS do que propriamente de acordo com as necessidades dos doentes - o que explica, por exemplo, que persistam, erradamente, unidades especializadas, como as maternidades, fora do contexto hospitalar.

[2] A confirmarem-se esses relatos, é uma das consequências dramáticas do que foi a gestão irresponsável, durante as últimas décadas do Estado grego.

Manuel Antunes, cirurgião toráxico e professor da Universidade de Coimbra

[1] Não sendo do Norte, é-me difícil responder a esta pergunta; no entanto, parece-me claro que, sendo a primeira fase fundamental, as duas seguintes não o serão tanto ou terão menor prioridade. E há coisas fundamentais no País que foram "definitivamente" abandonadas. Do mal, o menos....

[2] Sob o ponto de vista humanitário, não é aceitável. Mas estamos numa economia de mercado: uns vendem outros compram; se não pagam... infelizmente, hoje, os merceeiros já não vendem fiado!

Nuno Sousa, diretor do curso de Medicina da Universidade do Minho

[1] Há áreas da governação que carecem de "pactos de regime". O CMIN é claramente um desses casos. Mais do que procurar explicações para a confusão criada, importa encontrar soluções para a desbloquear, numa lógica de um plano nacional que sirva as populações.

[2] Infelizmente, a situação que se vive na Grécia é extremamente preocupante. Subjacente à ideia do projeto europeu está implícito o conceito de cooperação e solidariedade - é, agora, a Hora da Verdade para a Europa.

Paulo Mendo, antigo ministro da Saúde

[1] O CMN é porventura um dos projetos mais e melhor estudados, dando sentido à política de saúde desenvolvida há mais de vinte anos com os programas "Materno Infantil" e depois "Saúde da Mulher e da Criança". Estava lançado e programado desde 1995 - e não foi ideia de há três ou quatro anos que, infelizmente, afunilou e perverteu o programa inicial. A decisão de interrompê-lo é mais uma desgraça a juntar às outras.

[2] Nunca a miséria foi boa gestora nem criadora de solidariedades.

Purificação Tavares, Médica Geneticista, CEO CGC Genetics

[1] É indispensável analisar as necessidades e os recursos disponíveis. Desde que as pessoas não vejam a qualidade do seu atendimento e dos seus cuidados de saúde comprometidos, todos temos de contribuir para a contenção da despesa.

[2] É sempre dramático chegar a esta situação, em que o doente fica prejudicado por uma circunstância pela qual não é responsável. Terá de haver um entendimento humano e institucional para resolver rapidamente este problema.