Há notícias frescas: vai haver mais cortes na Saúde. São possíveis? Isabel Vaz, do grupo Espírito Santo Saúde, considera que "sim, tal como o demonstra claramente o estudo recentemente publicado pela Administração Central dos Serviços de Saúde". António Ferreira, presidente do Hospital de São João, sublinha que estes novos cortes podem acontecer se integrados em "reformas estruturais objetivas" que, realisticamente "não diminuiriam a produção do SNS nem a sua qualidade".
Em sentido contrário, Manuel Antunes, cirurgião cardiotoráxico de Coimbra, assinala que "um corte desta grandeza obviamente levará à limitação dos cuidados de saúde" , no que é secundado por Purificação Tavares Paulo Mendo, Nuno Sousa e Maurício Barbosa. Uma coisa parece certa: os dias 'tranquilos' do ministro da Saúde têm data para acabar.
[perguntas]
[1] Prevê-se que o Ministério da Saúde sofra aproximadamente 25% dos cortes da despesa do Estado deste ano, o maior entre todos os ministérios. Faz sentido?
[2] É exequível / justo o aumento do tempo de trabalho no setor da Saúde - com efeitos ainda este ano?
[respostas]
António Ferreira, presidente do Conselho de Administração do Hospital de S.João
[1] Uma redução sustentada da despesa só poderá ser conseguida com reformas estruturais objetivas, que, ao contrário do que se diz, não diminuiriam a produção do SNS nem a sua qualidade.
[2] A saúde (e o SNS) tem profissionais em excesso.
Isabel Vaz, presidente da Comissão Executivo da Espírito Santo Saúde
[1] Sim, tal como o demonstra claramente o estudo recentemente publicado pela Administração Central dos Serviços de Saúde (ACSS) e que deve merecer a melhor atenção de todos.
[2] Se todos os intervenientes perceberem a situação de emergência do país,farão com que seja possível.
Manuel Antunes, cirurgião toráxico e professor da Universidade de Coimbra
[1] No Estado actual da Nação tudo faz sentido, ou nada faz sentido. Um corte desta grandeza obviamente levará à limitação dos cuidados de saúde, o que muito nos penaliza. Mas se não há dinheiro para mais...Talvez outros sectores sofressem menos com tais cortes.
[2] Não sei como vai ser aplicado à Saúde, mas sou de opinião que o tempo de trabalho, nesta área, é curto. Penso que 40 horas não é demasiado para a maior parte dos grupos profissionais. Mas sou contra trabalho sem remuneração.
Maurício Barbosa, bastonário da Ordem dos Farmacêuticos e Prof. da Fac. Farm. Univ. Porto
[1] O Ministro da Saúde afirmou que não terão essa magnitude e afectarão os custos dos serviços sem reduzir os serviços. É isso que se espera. A poupança já alcançada nos últimos dois anos, em particular com medicamentos em ambulatório, não tem par. Mas na rede hospitalar a reforma continua por fazer.
[2] O aumento do tempo de trabalho na Saúde decorre do aumento a instituir na função pública. Poderá ser uma forma de baixar os custos com horas extraordinárias.
Nuno Sousa, diretor do curso de Medicina da Universidade do Minho
[1] Cortar na saúde, que é diferente de poupar, faz sempre pouco (ou nenhum) sentido porque sigo o lema "se pensas que a saúde é cara, experimenta a doença".
[2] A distribuição do tempo de trabalho deve ser flexível e com o objetivo de melhor servir os doentes.
Paulo Mendo, antigo ministro da Saúde
[1] Não. Infelizmente a atual "administração" da U.E. considera a Saúde uma despesa e não um investimento essencial e sagrado dos países civilizados. E, infelizmente, Portugal está obrigado a entregar as jóias e os dedos, apesar de todos os esforços excepcionais do Ministro da Saúde.
[2] É justo e está legislado se for voluntário e programado, desde 82 no Dec-lei 310/82. Obrigatório, viola toda a legislação laboral e enquadramento legal do trabalho na função pública e no SNS.
Purificação Tavares, médica Geneticista, CEO CGC Genetics
[1] Todos têm, aliás todos temos, de conseguir ganhos de eficiência, mas reduzir em 25% a despesa neste Ministério parece-me muito difícil.
[2] Em relação ao número de anos, no sector privado quase todos trabalham mais anos. E a maior longevidade que agora temos implica que a idade ativa dos indivíduos seja mais longa também.