Economia

Economistas dizem que austeridade e recessão explicam quedas esperadas

Os economistas Silva Lopes e Leite Campos admitiram, esta quarta-feira, que já esperavam que as previsões da OCDE para a economia portuguesa este ano e em 2014 piorassem, quer devido às consequências da austeridade, quer por causa da recessão.

"Emprimeiro lugar, há o ciclo vicioso da austeridade a trabalhar. Jáhá muito tempo que se vem dizendo que os cortes orçamentais ou osaumentos de impostos fazem baixar o poder de compra e, portanto, oproduto [Produto Interno Bruto]", disse José Silva Lopes emdeclarações à agência Lusa.

De acordocom o antigo governador do Banco de Portugal, o país "não vaisair desse ciclo vicioso tão depressa", já que "quando sebaixa o produto, baixa a receita fiscal e o resto acaba por ser muitomenor do que o previsto".

AOrganização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE)divulgou, esta quarta-feira, o relatório 'Economic Outlook', no quala instituição apresenta, duas vezes por ano, as suas perspetivasglobais.

Odocumento aponta para um aprofundamento da recessão da economiaportuguesa, que, segundo a OCDE, deverá chegar aos 2,7% da riquezaproduzida este ano, e diz que a dívida pública deverá superar abarreira dos 130% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2014, ficando 8,4pontos percentuais acima do limite máximo esperado pelo Governo.

TambémDigo Leite Campos reconheceu não ter ficado surpreendido com asprevisões apresentadas.

"Esteaumento da dívida pública em relação ao PIB era expectável porduas razões: primeiro porque tem havido défice nas contas públicas,depois porque como tem havido uma recessão, o PIB tem diminuído",afirmou.

Noentanto, as soluções defendidas pelos dois economizas sãodiferentes.

Para SilvaLopes, Portugal precisa exportar mais, o que deixou de acontecer "em2012 devido essencialmente à crise internacional".

"Comonão há procura da parte da OCDE - uma vez que quase todos os outrospaíses também estão em crise -, a nossa tábua de salvaçãoestá-nos a faltar. E é isso que explica, suponho eu, que a situaçãoesteja a ficar cada vez mais negra", defendeu.

Já LeiteCampos considera que Portugal só poderá sair "desta situaçãoextremamente difícil através de um crescimento económico".

Essecrescimento económico "significará duas coisas: primeiro oaumento do bem-estar da população, que é fundamental, [depois], aonível das contas públicas, vai permitir que o valor relativo dadívida pública diminua e que, portanto, esta seja mais facilmentesuportada e, ao mesmo tempo, que suba o PIB, reduzindo o valorrelativo da dívida pública", disse.

Reconhecendoque a questão do aumento do défice público é "muitocomplicada" porque baixá-lo "implica aumentar o desempregoe diminuir a produtividade", Silva Lopes admitiu que "éprovável que Portugal tenha de pedir um segundo resgateinternacional".

"Tinha-seprevisto para este ano um défice de 5,5%, afinal tudo indica que vaiser 6,4%, portanto, vamos precisar de mais dinheiro. Vamos ter que opedir emprestado lá fora", considerou, lembrando que, se serecorrer aos mercados, as taxas serão muito altas e "isso vaiaumentar a dívida pública".

"Pessoalmenteacho que os mercados não nos vão dar o dinheiro que precisamos,portanto vamos ter que bater à porta de um segundo resgate",afirmou.

LeiteCampos, por seu lado, admitiu que "possivelmente [a 'troika']terá de flexibilizar as metas do défice português.

"Possivelmenteterá de flexibilizar", mas "é preciso que se deem sinaismuito positivos no sentido do crescimento económico", alertou,frisando a necessidade de melhorar a administração da Justiça, daAdministração Pública e da Educação.

Redação