Por vezes um ministro tem contra si uma classe mas consegue o reconhecimento de outras; pode acontecer ter contra si os diferentes sectores da Educação mas manter alguma opinião pública a apoiar mudanças estruturais (uma visão) contra o aparelho instalado. Infelizmente nada disto parece passar-se. Nuno Crato chegou com as melhores intenções. Ao fim de dois anos e meio resta quase zero.
Não basta montar o cavalo do "rigor" para que a Educação melhore. Pode um país andar tão sistematicamente equivocado sobre qual é o seu paradigma de referência? A verdade é que Crato assentou a sua estratégia na opinião de meia dúzia de zelotas de velhos modelos. A escola portuguesa está moralmente destruída e as Universidades transpiram desconfiança para a massa cinzenta que deveria ficar em Portugal. Quo vadis sr. ministro?
[perguntas]
[1] O ano que terminou foi o pior dos últimos anos na Educação?
[2] Qual o momento do ano na Educação em Portugal?
[respostas]
Braga da Cruz. presidente da Fundação de Serralves
[1] Cultura - Não. Apesar da austeridade, o actual SE da Cultura tem-se destacado, com sensibilidade para o sector e capacidade de diálogo. Não tendo a Cultura uma janela aberta no próximo QREN (2014/2020), soube criar um espaço indirecto para ela.
[2] Cultura - A exposição do brasileiro Cildo Meireles, actualmente em Serralves, foi a mais vibrante manifestação de arte contemporânea de 2013 pelo génio criativo e pela seriedade de um dos mais consagrados artistas de nível global.
Joaquim Azevedo, diretor da Escola das Artes da Católica Porto
[1] Sim, o mais difícil por razões conjunturais, com a descida da despesa publica em educação, e com muitas medidas de política que continuam a tudo pretender alterar e com algumas guerras desnecessárias.
[2] O momento ao ano foi aquele em que cada aluno sentiu que aprendeu algo muito importante e cada professor sentiu que se realizou profissionalmente; o resto passará, isto não passará.
Albino Almeida, conselheiro nacional de Educação
[1] Creio que já ninguém tem dúvidas de que este foi mesmo o pior dos últimos anos na Educação: o MEC não pode ser governado pelo Ministério das Finanças!
[2] Dois momentos num só, porque originados na mesma teimosia fundamentalista: não alterar a data dos exames nacionais e manter a prova para os professores!
Rui Teixeira, presidente do Instituto Politécnico de Viana
[1] Sim, mas gémeo de outros. A dolorosa desgraça ignora a necessidade de opções políticas claras de médio/longo prazo, forjadas no largo consenso com os players sociais, na educação, na saúde, na justiça, etc. Cultivamos o improviso experimentalista. O ministro que chega é o "inteligente". O que parte é o "demente". O ciclo entre ambos é curto. Se não forem do mesmo partido, especialmente, urge pulverizar o sistema com a novíssima "inteligência", expurgando cerce aquilo que, de resto, o povo já havia descartado. Se alguma reforma vier em curso o melhor é atafulha-la, sem mais, pela exuberância e pelo perfume da verdadeira reforma: a que acaba de chegar! Teremos, então, a certeza reforçada de que o próximo ano será ainda pior..
[2] O cheque ensino. Ele informa tudo: quem são, ao que vêm...
Rui Reis, investigador e professor catedrático da Universidade do Minho
[1] O ano de 2013 foi um dos piores para a Educação e Ciência. Abundaram os problemas, as mudanças pouco justificáveis, a falta de visão e de estratégia. Sem investir nestas 2 áreas compromete-se o futuro. A crise não pode justificar tudo...
[2] Houve tantos momentos pela negativa que é difícil destacar um! Talvez o desinvestimento e as medidas avulsas e mal preparadas, tanto na educação como na ciência. O corte de relações a que os reitores se viram obrigados fala por si!
Marques dos Santos, reitor da Universidade do Porto
[1] Não sei se foi o pior. Foi certamente um ano que não correu bem para a Educação, nomeadamente para o ensino superior! É essencial que se planeie melhor, se execute com mais eficácia, se simplifique a legislação e os procedimentos e se respeite mais as instituições e as pessoas!
[2] O melhor momento foi a divulgação dos resultados do PISA! A melhoria registada mostra que é possível alcançar melhores resultados na aprendizagem, o que é essencial para o futuro do país!
Maria Arminda Bragança, vice-presidente da Federação Nacional Educação
[1] Foi um ano muito mau para a Educação, sobretudo devido à infinidade de legislação avulsa publicada, que retirou coesão aos pilares do sistema educativo português e foi, definitivamente, o pior no enorme e irrecuperável desinvestimento feito no sector.
[2] O momento do ano foi aquele em que foram divulgados os resultados do PISA, em que os alunos portugueses evoluíram muito positivamente, demonstrando que vale a pena investir em Educação tendo em conta a nossa realidade.