Sociedade

Manifesto defende criação de condições para fixação de talentos em Portugal

O "Manifesto contra a crise" apoiado por 131 intelectuais, que vai ser apresentado no dia 29, em Lisboa, defende a criação de condições para os talentos se fixarem em Portugal, ou no estrangeiro, mas ao serviço do país.

O"Manifesto contra a Crise - Compromisso com a Ciência, aCultura e as Artes em Portugal" é apresentado no próximo dia29, às 18.30 horas, na Fundação Gulbenkian, em Lisboa, e pretende"tornar pública a relevância estratégica da ciência, dacultura e das artes para o nosso futuro, como comunidade políticaaberta e dinâmica", lê-se no respetivo texto ao qual a agênciaLusa teve acesso.

Entre os131 intelectuais que assinam o Manifesto, encontram-se os escritoresMário Cláudio e Júlia Nery, o ensaísta Richard Zenith, PedroCalafate, professor da Faculdade de Letras de Lisboa, Moisés deLemos Martins, da Universidade do Minho, Luísa Paolinelli, daUniversidade da Madeira, e o jornalista José Carlos Vasconcelos.

OManifesto faz um diagnóstico da situação de Portugal, que "estáem crise", advertindo que "não pode ficar num impasse"e, nesse sentido, defende "a criação de condições para queos talentos nacionais, felizmente numerosos nas áreas das ciências,da cultura e das artes, se fixem em Portugal ou para quedeliberadamente estejam no mundo e ao serviço do país".

"Nãopodem estar em fuga", sublinham os subscritores que consideram"a atual situação ainda mais grave do que foi no passado",remetendo para "épocas históricas, em que dispensámos ouexpulsámos uma elite qualificada e empreendedora que fez o Portugaluniversalista dos Descobrimentos", numa referência à ação daInquisição e às políticas antijudaicas dos séculos XVI, XVII eXVIII, que enfraqueceram o país e contribuíram "para a suadecadência e submissão a poderes estrangeiros".

Ossignatários criticam as políticas que levaram à "saída deportugueses qualificados do país, cerca de 20% de licenciados,especialmente jovens, penhor do nosso futuro".

"Éincontestável que as atuais políticas de austeridade, pelo seuexcesso e, sobretudo, falta de sentido histórico, forçaram aemigração, a fuga e o abandono do país por muitos dos nossosmelhores", lê-se no manifesto que conta com assinaturas, entreoutras, dos escritores Maria Teresa Horta, Teolinda Gersão, PedroAlmeida Vieira, Rui Zink, José Jorge Letria, José Luís Peixoto eJorge Reis-Sá.

OManifesto, que exige que o potencial destes portugueses qualificadosseja "reconhecido, aproveitado [e] capitalizado", propõe a"promoção de uma cultura de responsabilidade cívica orientadapara o apoio a projetos criadores de trabalho".

"Nomundo contemporâneo, a produção de riqueza está dependente dainteligência das pessoas e, por isso, dos referidos fatoreseconómicos, sociais e culturais. A produção de riqueza está,igualmente, dependente de fatores imateriais e do sentido de pertençadas pessoas aos seus lugares de origem", atesta o texto doManifesto.

Nestesentido, defende o documento "a criação de uma rede deinstituições amigas do trabalho, da investigação, da criaçãocultural, científica e artística [que] deve ter como horizonte umarevolução da mentalidade dominante no que respeita àsolidariedade".

"Naturalmente,deverá ter reflexos nas políticas públicas", defendem ossignatários, entre os quais o artista plástico José Barrias, odramaturgo Joaquim Paulo Nogueira e o magistrado Joaquim MiguelPatrício.

Defende odocumento uma "solidariedade para a criação e para otrabalho": "Uma nova solidariedade ou compromisso dasinstituições públicas e da sociedade com a ciência, a cultura eas artes, passa por reservar uma parte dos seus meios para fomentar avalorização e a investigação do nosso património, a criaçãocientífica, literária e artística", lê-se.

"Estamosa falar de investimentos produtivos com significativos efeitos sobreo todo social", enfatizam os subscritores como a escritoraHelena Marques e os professores, da Universidade de Turim, AntónioFournier, e da Faculdade de Letras de Lisboa, Inocência Mata.

A remataro documento declara-se: "Mais do que imitar os outros, devemosprocurar que os outros nos imitem", argumentando quehistoricamente "progredimos sempre que fomos capazes de inovar ede fazer o que os outros ainda não tinham feito".

Entre as131 assinaturas constam António Cândido Franco e Ana Luísa Vilela,da Universidade de Évora, André Barata, da Universidade da BeiraInterior, Fernando Cristóvão, da Academia de Ciências de Lisboa,Carlos Nogueira, da Universidade do Porto, Fernando Moreira, daUniversidade de Trás os Montes Alto Douro, Henrique Manuel Pereira,da Universidade Católica, Luís Machado de Abreu, da Universidade deAveiro, e Carlos Quiroga, da Universidade de Compostela.

Entre osmais de cem nomes registam-se ainda os do escritor e investigador daHistória Militar, Carlos Vale Ferraz, dos escritores Mário deCarvalho e Miguel Real, das jornalistas Maria Augusta Silva e IsabelNery, do investigador de história do Teatro Duarte Ivo Cruz e deOnésimo Teotónio de Almeida, da Universidade de Brown, nos EstadosUnidos.

Redação