Educação

O exemplo das universidades para a união do Norte

Em tempo de guerra não se limpam armas e finalmente o Minho, Trás os Montes e Porto resolveram deixar de lado concorrências internas para se focarem em algo essencial: eficiência e qualidade. Mais escala, para gerir melhor custos, e maior dimensão, para se ter visibilidade internacional, são questões essenciais para garantir empregos, competências e até fundos comunitários.

As universidades destas regiões têm ainda algo extraordinário a ganhar com a nova junção de esforços: captação de novos alunos no mercado internacional - lusofonia e não só - o que é muito importante para as pequenas economias locais mas, mais do que isso: geram fixação de massa cinzenta nessas regiões e germinação de novas empresas criadas por jovens universitários. No meio de crise abrem-se, por vezes, extraordinárias janelas.

[perguntas]

[1] O Governo mudou o nível de habilitações necessárias para se ser professor do ensino básico e secundário. Concorda com a mudança?

[2] A cooperação estratégica assinada entre as Universidades de Porto, Minho e Trás-os-Montes é uma boa medida? Qual o primeiro efeito útil?

[respostas]

Marques dos Santos, reitor da Universidade do Porto

[1] Uma boa formação dos docentes de todos os níveis de ensino é essencial para assegurar um ensino/ aprendizagem com qualidade e eficácia. Por isso, aplaude-se a exigência de um nível de habilitações mais elevado para a formação dos professores dos ensinos básico e secundário. Mas não esquecer a sua formação ao longo da vida!

[2] Esta cooperação estratégica é um passo importante para o melhor aproveitamento dos recursos das três universidades, para facilitar a angariação conjunta de meios financeiros complementares, tanto a nível nacional como internacional e para potenciar o apoio ao desenvolvimento da região e do país! É um exemplo a seguir pela generalidade das instituições e empresas pois só com cooperação estreita poderemos alcançar escala, visibilidade e competitividade a nível global.

Braga da Cruz, presidente da Fundação de Serralves

[1] Uma sociedade evoluída afirma-se pela exigência da qualificação dos seus profissionais, em especial no sistema educativo público. Por isso o Governo tem legitimidade para regular o assunto em diálogo com os sindicatos.

[2] O último concurso de acesso ao Ensino Superior revelou preocupante excesso na oferta instalada. Como na União Europeia o nível regional se tem revelado adequado para promover a racionalização da rede, as 3 Universidades do Norte deram um passo no bom sentido.

Albino Almeida, conselheiro nacional de Educação

[1] Atenta a importância do ensino da Matemática no 1º Ciclo, há muito se defendia a exigência de os candidatos terem tido um bom desempenho em Matemática e esta ser disciplina habilitante e nuclear de acesso ao curso, o que até agora não era exigido!

[2]Percebe-se a motivação da medida, mas ainda não o seu impacto, por poder criar maiores dificuldades para a frequência do curso desejado, seja a alunos, seja a famílias, em matéria de custos.

Joaquim Azevedo, docente da Escola das Artes da Católica Porto

[1] Não atrasa nem adianta. O que é preciso mudar é a formação dos docentes. Quando não se ataca o problema, fica-se a discutir o seu tamanho.

[2] O primeiro foi responder, a Norte, à criação da nova Universidade de Lisboa. Mas ainda estamos no princípio de um longo e espinhoso caminho...que será por aqui. Coragem!

Maria Arminda Bragança, vice-presidente da Federação Nacional de Educação

[1] Tem aspectos positivos e outros que precisam de ser clarificados. Foi dado um passo em frente ao se alterar a formação inicial de professores, mas, mais uma vez, surge como medida avulsa com uma proposta sem a devida fundamentação.

[2] Toda a cooperação estratégica só pode ser benéfica. Mantendo a sua identidade e especificidades, as três universidades podem encontrar soluções articuladas que respondam eficazmente aos grandes desafios que enfrentam.

Rui Reis, investigador e professor catedrático da Universidade do Minho

[1] É um assunto que não tenho seguido com grande atenção.

[2]Não se trata de uma fusão, mas de um acordo para colaboração em algumas áreas estratégicas. A ideia é potenciar melhor a utilização de recursos humanos e gestão de alguns cursos e a colaboração em projetos de investigação, em que seja necessário maior massa crítica. Haverá também uma potenciação das estratégias de especialização inteligente, que são muito importantes para todo o desenvolvimento da região norte.

Rui Teixeira, presidente do Instituto Politécnico de Viana

[1] É uma mudança. Tão-só! Agora, o prelúdio político montado para a justificar foi (gratuitamente) injusto para os professores, cuja maioria foi (superiormente) formada pelas Escolas Superiores de Educação.

[2] Claro que sim. Os quatro Institutos Politécnicos do norte (APNOR) e do centro (POLITÉCNICA) já o haviam feito há anos. Compartilham, hoje, entre si, recursos, oferta formativa, internacionalização e projetos, sobretudo, os ligados ao desenvolvimento das suas regiões.

Redação